Qualquer processo da sombra pede
silêncio, calma, tempo para esperar que as respostas surjam.
É necessário contemplar as
feridas emocionais por sarar do passado, observar os seus efeitos na nossa
vida. Este é o primeiro passo.
E neste silêncio podemos começar
a descobrir a realidade tal como se apresentou no passado, sem uma
interpretação. E esta é a parte mais difícil. Aprendemos a rotular as nossas
experiências como sendo boas ou más, bonitas ou feias, certas ou erradas.
Aprendemos ainda que as experiências más, feias ou erradas são causadoras de
sofrimento. E as experiências boas, bonitas e certas são causadoras de
felicidade.
Isto poderia ser verdade num
planeta perfeito. Um planeta sem tremores de terra, sem cheias que destroem vidas,
sem acidentes de viação, sem cobras venenosas, sem aranhas, sem ratos
portadores de doenças, até mesmo um planeta sem doenças. E este planeta não é
assim.
Querer viver num planeta onde as
pessoas são amáveis e compreensivas, onde se ajuda o próximo sem esperar um
retorno, onde os pais sabem o que é melhor para os filhos, onde não acontece
violência, é ausentar-se da realidade. Neste planeta ainda não são assim as
coisas.
Querer que não aconteça aquilo
que acontece é lutar com a realidade. E iremos perder. A realidade é o que
acontece independentemente daquilo que nós desejamos.
Acontece ainda este feitiço
lançado sobre nós (e muitos movimentos de auto-ajuda contribuem para que este
feitiço se torne mais forte): ensinam-nos que temos controlo sobre a vida, que
podemos se quisermos, que a felicidade está a duas páginas de distância, ou a
uma sessão de cura energética. O feitiço diz que há responsáveis pelo que
acontece e há vitimas. E se fores o responsável, sentirás o poder da culpa. E
se fores a vitima sentirás o poder da humilhação, vergonha, ressentimento, etc.
Ao entrarmos num processo de
sombra criamos o espaço para ouvir. O processo não oferece respostas, não
ensina a ter uma vida feliz ou a arranjar o homem dos sonhos de cada mulher
(que, por sinal, não existe).
Aprendemos ainda que somos a causa daquilo que nos acontece. Já ouvi muitas vezes alguém afirmar que o cancro é causado por emoções negativas. Pergunto-me quais as emoções negativas que uma árvore guardará (sim, por cancros acontecem na natureza, não apenas no ser humano). É muito provável que as emoções sejam um dos aspectos da doença, mas decidir que são A Causa é incutir sentimentos de culpa ou vergonha na pessoa doente.
O processo da sombra liberta-nos dos preconceitos básicos, da dualidade e da guerra entre o bem e o mal. Eventualmente podemos ter a experiência da bondade da vida em cada momento.
No silêncio, que surge depois
de cada pergunta, podemos encontrar as nossas respostas, podemos fazer as pazes
com o passado, aprender com o passado e, até mesmo, amar o passado.
Um processo da sombra permite uma
compreensão da realidade sem estas histórias de certo e errado, bom e mau.
Permite ter a experiência da paz.
Os processos costumam acontecer
em retiros, sem distracções, onde cada pessoa faz o seu caminho individual.
Devido a este condicionamento de interpretar a realidade como sendo ora boa,
ora má, nem sempre conseguimos ouvir as perguntas ou explicações dadas antes de
cada actividade. E é ok.
Nos processos individuais, com a
duração de dois dias, a pessoa é guiada de volta ao passado, às situações de
dor. Sempre através de perguntas muito directas e sem espaço para interpretações
ou subjectividade, as respostas vão surgindo. E a paz é possível.
Antes de qualquer processo é
importante tomar consciência apenas da resposta a esta pergunta simples: queres
ter paz ou ter razão? Se cada evento do teu passado fosse uma lição, o que
poderias aprender? O que poderias ensinar?
Não respondas. Mantém-te presente
para a questão. Deixa que a resposta te encontre.
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Super interessante!
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