Fomos educados a acreditar que é responsabilidade dos outros respeitar-nos, apreciar-nos e amar-nos.
E depois carregamos ás costas o estandarte do mártir. E queixamo-nos.
A nossa vida é feita de muitas histórias, todas elas recicladas. As histórias que contamos a nós mesmos mil vezes ao dia, e que se têm repetido ao longo de milhares de anos, soam a isto:
- tu devias amar-me;
- o meu patrão devia reconhecer o meu trabalho;
- o meu filho devia ser um bom estudante;
- eu preciso de mais dinheiro;
- eu quero um trabalho seguro;
- tu não deverias falar mal de mim;
- eu preciso que os meus amigos me respeitem;
- as pessoas deveriam ser simpáticas;
- os governantes precisam de olhar pelo seu povo;
- o meu corpo devia ter uns quilos a menos;
- etc. etc. etc...
Todos os “deveria”, “preciso” e “quero” que contamos a nós próprios são histórias em perfeita confrontação com a realidade.
As histórias que contamos a nós próprios, e que nos fazem sofrer, colocam sempre o poder das nossas vidas nas mãos de outros. E enquanto o poder das nossas vidas estiver nas mãos dos outros só podemos experienciar a impotência, a angústia e ansiedade de não saber o que irá acontecer a seguir. Vivemos no presente com a mente num eterno futuro que nunca acontece. O futuro é agora. E agora. E agora.
Eu conto uma história sobre o meu pai. Nessa história o meu pai deveria ter-me respeitado, amado e reconhecido o meu valor. De acordo com os meus padrões, é claro.
E de cada vez que vejo o meu pai lembro-me da minha história sobre quem ele é e quem deveria ser. E sofro.
No lugar de pai, sente-te livre para colocar marido, pais, alunos, governos, vizinhos, amigos, colegas ou amante.
Quando te amo e espero que me ames de volta não estou a ser íntegro. Isto é tudo menos amor. Em realidade é cobrar um preço pelo que chamo de amor.
E se eu não acreditasse nas minhas histórias? Se não fosse possível acreditar que tu deverias ser diferente de quem és?
Eu sei que todo o mundo me ama. Mais de sete mil milhões de pessoas amam-me. Só que é provável que muitas ainda não estejam conscientes desse amor. Mas isso não me impede de amar cada ser humano tal como é, sem querer que seja diferente.
Se é assim tão fácil amar-te, respeitar-te, ou valorizar-te, poderias começar por dar-nos o exemplo? Poderias começar a amar-te sem esperar nada de volta? Poderias começar a respeitar-te, sem qualquer exigência? Poderias começar a valorizar o simples facto de existires?
Enquanto precisar que outros me valorizem, amem ou respeitem, irei viver sempre num inferno. Irei estar sempre à defesa. Sempre à espera da próxima agressão, ainda que inconsciente de que o faço.
Ouço professores que se queixam de alunos desobedientes e barulhentos. E não conseguem ver as mil e uma maneiras que eles próprios não se obedecem nem ouvem o ruído infernal nas suas cabeças. Os alunos apenas lhes mostram o que andam a fazer, inconscientemente.
Ouço pais a queixarem-se dos filhos que não estudam. E quando lhes pergunto se gostam de estudar, e o que andam a estudar, olham para mim como se lhes tivesse perguntado sobre a possibilidade da existência de vida em Neptuno. Se estudar é assim tão divertido e excitante, poderiam os pais ser o exemplo para os filhos?
Ouço mulheres a queixarem-se que os maridos não lhes dão carinho. E quando lhes pergunto quando foi a última vez que deram um carinho ao marido, sem esperar nada em troca, olham-me como se tivesse proferido uma heresia.
Queres mais amor na tua vida? É fácil. Dá a ti mesmo esse amor. Mostra-nos que é fácil amar-te, amando todos à tua volta, especialmente de acordo com os teus padrões (e isso inclui-te primeiro a ti como aquele que ama). Isso é amor.
Queres mais respeito na tua vida? Dá o exemplo. Começa por te respeitar a ti mesmo. Deixa de te preocupar com o que os outros possam dizer de ti, deixa de fazer fretes, e, por favor, pára de falar mal das pessoas que não estão presentes. Isso é respeito.
Queres que os outros reconheçam o teu trabalho? Que tal começares por te valorizar a ti mesmo? Onde tens valor? Não precisas que os outros digam que és bom, só tu podes fazer isso.
Enquanto tivermos uma história sobre como a vida deveria ser, como os outros deveriam ser, iremos criar um inferno nas nossas vidas.
A realidade é sempre carinhosa. Mostra-nos sem qualquer decepção aquilo que é. E nós acreditamos que somos Deus, e exigimos que a realidade mude e seja diferente daquilo que é, para podermos estar bem. Um horror. Uma história, incompatível com aquilo que é.
E as perguntas que me fazem são sempre as mesmas: mas não deveríamos querer um mundo sem guerra, um mundo de amor e compreensão?
Claro que sim. E se é assim tão fácil estar continuamente em paz e a amar tudo e todos, poderias começar por dar-nos o exemplo? Em vez de exigir que os outros mudem, poderias mudar tu? Tu és o nosso professor. Através do teu exemplo.
Começa a resgatar o teu poder. De cada vez que te ouvires a pensar “ela deveria amar-me” inverte o pensamento: eu deveria amar-me. E ama-te, sem impor condições ao teu amor. E de cada vez que te ouvires a pensar “eles deveriam estar sossegados” inverte para: eu deveria estar mais sossegado (sobretudo na minha cabeça). É sempre de ti que se trata.
A realidade é carinhosa. Ama-nos incondicionalmente. Mostra-nos sempre aquilo que é, sem histórias nem segundas intenções.
A única história real é esta: tudo o que vês em mim está já em ti.
Por este motivo digo que sempre que me sinto mal é porque estou a acreditar num pensamento que é mentira. Uma história falsa.
Pondera.
querido Emídio
ResponderEliminarmais uma vez, foste delicioso com a nossa razão esquizofrénica :)
para já, as minhas 'meditações activas' continuam a revolver-me miolos e entranhas, mas - confesso-te - eu ainda sou bué esquizofrénica, daquelas que ainda acreditam que, um dia, os limoeiros vão dar laranjas...
mas não desisto! a acidez dos limões é tão doce e a doçura das laranjas tão ácida :))
e se a única história real é que tudo o que vejo em ti está em mim... é porque a fruta é toda deliciosamente fantástica :)
(o estandarte do mártir é mesmo aquele palavrão que te disse no mail, mas que aqui não repito :)
abraços.
...um lindo texto
ResponderEliminarommmmmm
namasté!
...hoje não deixo o meu comentário... deixo o meu amor... e levo o texto para partilhar..
ResponderEliminarUm grande abraço,
Filomena
Viva Emidio,
ResponderEliminarÉ pelo sentir, pelo respirar e liberdade que te convido a vir levantar no meu blog um selo de oferta ( o prémio dardos ).
Um sopro de felicidade...