A logística de uma relação com pai/mãe com traços narcisistas


Esperar qualquer tipo de gesto de afecto de um pai/mãe narcisista é uma experiência idêntica a abraçar um porco-espinho na esperança de não sentir os picos.

Alguns dos comportamentos habituais no pai/mãe com traços narcisistas (Transtorno Narcisista inclui todos os exemplos abaixo e depois mais alguns):


  • Reações negativas a toda e qualquer situação do seu desagrado. O pai/mãe não tem qualquer controlo sobre as suas emoções quando as suas necessidades, vontades, desejos, não acontecem. Qualquer iniciativa por parte do filho/a que demonstre autonomia, determinação, independência, terá uma reação negativa, muitas vezes tóxica. Transformam em drama a mais insignificante das situações (a filha adulta decide jantar com amigas, e como não pediu autorização, será acusada de egoísta ou dar mais valor às amigas do que à família, etc.). 
  • Ausência de empatia. Esta incapacidade por parte do pai/mãe, que não tem qualquer consideração pelos sentimentos do filho/a, nem pelo seu sofrimento ou alegria, Tudo o que acontece tem que ver com o pai/mãe. Desde “o que os outros podem pensar” até “arruinaram o meu dia” ou, para os pais mais experientes na arte subtil da manipulação, uma dor aguda no peito (provavelmente enfarte) quando o filho/a toma ma decisão considerada importante sem consultar o pai/mãe.
  • Controlo extremista. Quantos mais traços narcisistas possuir o pai/mãe, maior o controlo exercido sobre o filho, mesmo na idade adulta. Se o filho/a vive afastado (para a sua sanidade mental é importante que assim seja), há a obrigação de telefonar diariamente (claro que para ficar a saber dos feitos e desgraças do progenitor). Disfarça a preocupação exagerada de precisar de saber onde o filho/a está, com quem e a fazer o quê com uma obsessão em controlar tudo e todos à sua volta. Se o filho/a não responde imediatamente a uma mensagem será alvo de crítica temperada com algum cinismo e um admoestar por ignorar a mãe/pai.
  • Críticas inapropriadas. Raramente, se alguma vez, o pai/mãe com traços narcisistas crítica de forma construtiva e com o objectivo de educar. Em vez disso a crítica é usada para incutir um sentimento de culpa, vergonha ou humilhação. São peritos em diminuir, desvalorizar ou ridicularizar os feitos daqueles que os rodeiam. Mais facilmente falarão dos erros, falhas, desistências e problemas do filho/a.
  • A culpa é sempre dos outros. O pai/mãe narcisista jamais assumirá responsabilidade pelo que quer que seja, encontra facilmente um bode expiatório. Mesmo quando apanhado em flagrante, consegue distorcer factos por forma a não assumir qualquer responsabilidade. 


Algumas das preciosidades que qualquer filho/a irá ouvir com bastante regularidade. Nota que estas são afirmações ditas invariavelmente num tom cínico, comiserado, amargo, enraivecido, sarcástico. O objectivo é invariavelmente criar no filho/a um sentimento de culpa, vergonha ou medo, pelo simples facto de este mostrar a sua capacidade de ser autónomo, independente. E quase tudo pode ser interpretado de diferentes maneiras, basta alterar um pouco o tom de voz ou a perspectiva, significado atribuído ou intenção.


  • “Não gosto muito do teu namorado. Mereces melhor.”
  • “Com esse feitio ninguém te atura.”
  • “Faz como quiseres, já estou habituada a que me ignores.”
  • “Eu nunca te disse isso!” (isso = qualquer merdinha que ele/a tenha dito anteriormente e que afinal estava errado/a embora incapaz de assumir que o tenha dito)
  • “És um insensível, não queres saber de como me sinto, só pensas em ti.”
  • “Estás a mentir.”
  • “Deves estar doida!”
  • “Nunca tens tempo para os teus pais.”
  • “Tanto que eu me sacrifiquei por ti para agora…”
  • “Só deus e eu sabemos o que sofri para te dar tudo o que tens hoje.”
  • “Ninguém quer saber de mim.”
  • “És um ingrato!”
  • “Tu nunca tens tempo para a mãe/pai.”
  • “Sabes lá tu o que custa a vida!”
  • “Nem sei como tens amigos…”
  • “Depois de tudo o que fiz por ti…”
  • “Parece que nem tens mãe/pai!”
  • “Será que alguma vez farás alguma coisa bem feita?”
  • “Que seria de ti sem mim?…”
  • “Mas tu estás maluco?…”
  • “És um malcriado.”
  • “Não me divorciei do teu pai por causa de ti.”
  • “Estragaste-me o natal/consoada/páscoa/férias de verão/não-importa-o-quê!”
  • “Já sabes tudo, a minha ajuda não serve para nada.”
  • “Se achas que é melhor assim, tu lá sabes.”
  • “Que te corra tudo bem…”
  • “Não sei como consegues dormir de consciência tranquila.”
  • “Não foi comigo que aprendeste a ser assim.”
  • “Não sei onde é que falhei, sempre fiz tudo por ti.”
  • “Por mais que faça nunca é suficiente para ti.”
  • “Já percebi que para ti não conto.”
  • “Preferes dar ouvidos aos teus amigos (em vez de seguir os meus conselhos).”
  • “Já sei que vou terminar os meus dias num lar.”
  • “Não fazes mais que a tua obrigação.” (Isto para não mostrar apreço)
  • “És tal e qual o teu pai!”
  • “Nunca aceitas o que te digo.”
  • “É para o teu bem.”
  • “___________________________________________________.” (insere a tua favorita)


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