Os Limites Pessoais são barreiras construídas nos primeiros anos de vida, de acordo com os modelos que os nossos pais nos serviram, e que têm por objectivo proteger-nos física, mental e emocionalmente nas interações com outros. Definem aquilo que para nós é ou não é aceitável. Permitem-nos dizer “não” sem receio nem justificações.
Os Limites Pessoais, de uma forma muito simples, permitem que saibamos quais as nossas necessidades e o que estamos dispostos a dar aos outros. Um exemplo disto é a capacidade de assumir perante a pessoa com quem temos uma relação amorosa a nossa necessidade de um dia precisar de um abraço ou colo, e estarmos disponíveis se o nosso parceiro num outro dia nos pedir para preparar um jantar para os seus pais. Neste exemplo os Limites Pessoais de ambos são claros e respeitados. Imagina agora a situação de um parceiro que nos pede para preparar um jantar de três pratos para os amigos da equipe de futebol (para além de cozinhar para 12 ou 14 homens, sabes que 2 deles tratam mal as companheiras, outro é racista, e ainda outro gosta de criar drama). Neste cenário, conhecendo os nossos Limites Pessoais será fácil dizer “não”. E se o parceiro insistir significa que não respeita esses Limites. Pode ainda ocorrer a violação destes Limites da nossa parte, obviamente. Quando, por exemplo, esperamos que o nosso companheiro esteja disponível para nos ouvir quando sabemos que tem que preparar uma reunião importante para a equipa de vendas. O companheiro deverá responder com um “não” e nós devemos respeitar a sua resposta, caso contrário estaremos a violar os seus Limites Pessoais.
Muitos dos nossos Limites Pessoais são fluidos e não uma estrutura rígida e impenetrável. Podemos dizer “não” a um pedido de um colega hoje, porque há motivos suficientes para a nossa resposta, e dois dias mais tarde ser perfeitamente natural dizer “sim” ao mesmo pedido.
Em qualquer relacionamento saudável, seja com um pai, esposa, filho, colega de trabalho ou amiga, sabemos que os nossos Limites Pessoais são respeitados quando não há insistência, manipulação ou cobrança.
Alguns exemplos de Limites Pessoais saudáveis e tóxicos:
Uma pessoa com baixa auto-estima, que não tenha aprendido a ser autónoma, e a acreditar que pouco vale, irá manter uma relação com o tipo de pessoas que reagem de forma tóxica, desde um pai ou mãe até um chefe, colega de trabalho ou amigo.
Devido a uma infância em que a sua vida emocional foi negligenciada, não tinha voz e nenhum dos progenitores lhe deu qualquer atenção em termos emocionais, estabelecer Limites Pessoais com aqueles que lhe são próximos será extremamente difícil. Sentimentos de confusão, culpa ou medo, alimentados desde os primeiros anos de vida, impedem esta pessoa de compreender toda a manipulação psicológica a que é sujeita diariamente (“gaslighting”). Sente-se mal, reconhece as reações inapropriadas e no entanto um sentimento de culpa, acrescentado ao desejo de agradar e obrigação de obedecer aqueles que considera autoridade (pai, mãe, irmão, tia, etc.) não lhe permitem assumir que estas pessoas comportam-se de uma maneira tóxica.
Perante uma repetição de situações em que os seus Limites Pessoais são desrespeitados continuamente, esta pessoa aprende, através de uma lógica subvertida, a criar para si Limites que serão ou Rígidos ou Porosos. Por vezes demonstrando ambos no espaço de dois minutos. Um exemplo disto é a jovem que demonstra Limites Pessoais Rígidos e exige uma pontualidade britânica ao namorado, enquanto ouve a mãe a acusá-la de egocêntrica porque não atendeu o seu telefonema da primeira vez que lhe ligou e ela pede desculpa, demonstrando Limites Pessoais Porosos.
Pessoas com Limites Pessoais Rígidos:
- Mantêm todos a uma certa distância;
- Parecem emocionalmente ausentes, mesmo na intimidade;
- Têm poucas, se algumas, amizades chegadas;
- Evitam amizades chegadas;
- Levam tudo a peito;
- Parecem não possuir um sentido de humor.
Pessoas com Limites Pessoais Porosos:
- Envolvem-se excessivamente nos problemas dos outros;
- Têm muita dificuldade em dizer “não”;
- Partilham demasiada informação pessoal com outros;
- Tentam agradar a todos com medo da rejeição;
- São emocionalmente carentes;
- Tornam-se facilmente presas de predadores astutos (sobretudo narcisistas).
Pessoas com Limites Pessoais Saudáveis:
- Partilham informações pessoais de acordo com o grau de intimidade (mais com um namorado ou amigo de infância, menos com uma colega de trabalho);
- Compreendem as suas necessidades e sabem comunicá-las às pessoas relevantes;
- Valorizam as suas opiniões e também as dos outros;
- Aceitam um “não” dos outros como sendo uma resposta honesta;
- Sabem informar os outros quando estes tentam invadir os seus Limites Pessoais;
- Sabem o seu valor na comunidade da qual fazem parte.
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