Não há comunicação saudável com alguém narcisista. Não é bem assim. Há vários tipos de comunicação.


O título deste artigo é um exemplo do que pode acontecer durante uma conversa com o pai/mãe narcisista. Diz-se o que não se disse para depois dizer que não foi dito aquilo que se subentende como dito... 
Qualquer comunicação com uma pessoa com transtorno narcisista será inútil e simultaneamente dolorosa, para além do humanamente aceitável. O pai/mãe narcisista não respeita qualquer limite na privacidade do filho/a, altera o tema do que se está a discutir sem qualquer aviso, o que antes era mau passa a ser bom, o que ficava em cima passa a ser em baixo, longe passa a ser perto, o passado de repente é futuro, a Maria já não é Maria mas Miguel. As regras de qualquer comunicação são alteradas a meio de uma frase. São peritos a distorcer qualquer grama de realidade, criam confusão, culpa, vergonha, medo e raiva enquanto se vitimizam e “sofrem” pela falta de compreensão, num discurso desconexo em que qualquer ser humano se perde nas múltiplas camadas de enredos secundários. De uma maneira simples: ninguém consegue estabelecer uma comunicação lógica com a pessoa narcisista.


Por forma a manter alguma sanidade mental e emocional é essencial que o filho/a adulto se relembre, diariamente, que não é, nunca foi, responsável pela vida emocional do pai/mãe. O sentimento de culpa é falso e surge, por norma, em situações em que a manipulação disfarçada não produz o resultado desejado. Seja como for, na presença do pai/mãe narcisista é habitual para o filho/a sentir tensão, nervosismo, preocupação, medo ou culpa como parte da experiência.

No caso do pai/mãe com traços narcisistas é possível manter uma relação, desde que geograficamente afastados, em que estarem fisicamente juntos será uma excepção, a qual ocorre uma ou duas vezes ao ano. Todavia, se o pai/mãe possuir todos os traços (Transtorno de Personalidade Narcisista), a única opção que permite ao filho/a sanidade mental e relacionamentos minimamente saudáveis é o corte definitivo com o progenitor. Aqui, qualquer tipo de comunicação ou aproximação será tóxica. É doloroso tomar esta decisão, não só porque é necessário fazer o luto de um pai/mãe ainda vivo (mas que nunca soube sê-lo), mas também porque os restantes membros da família, que não participam nos jogos constantes de manipulação, diminuição de carácter, desvalorização e negação de privacidade, irão participar nas tentativas de aproximação, recorrendo eles mesmos a jogos de culpa e vergonha. 


Três pormenores extremamente importantes a ter em conta no caso de transtorno narcisista:


  1. Nunca, jamais, será possível comunicar de maneira saudável com um pai/mãe com esta patologia. Tudo o que o filho/a diga será subvertido, alterado, negado, por forma a  que continuamente todo e qualquer espectador externo (incluindo irmãos, tios, sobrinhos) a esta dinâmica convencer-se-á de que a razão está do lado do progenitor;
  2. Quando, como último recurso de manipulação, alguém afirma algo do tipo “mãe é sempre mãe”, “o pai só não fez mais porque não podia”, “mãe há só uma” ou o ridículo “não há amor como o de uma mãe pelo filho” (esta afirmação tenta elevar a mãe/pai a um estatuto de semi-deus, inquestionável e inquebrável). Estas afirmações são completamente inúteis, sem qualquer significado real na busca de uma solução.
  3. O pai/mãe narcisista será incapaz de assumir responsabilidade pelas suas palavras e ações (mesmo um pedido de desculpa terá um sabor amargo, porque será acompanhado de uma justificação perfeitamente aceitável ou haverá mais drama, choro, acusações, etc. Aprender a ficar calado, não reagir, afastar-se, é a única forma de não ser sugado novamente para dentro do universo egocêntrico do pai/mãe. 

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