Vamos ver a seguir quais os comportamentos habituais de pessoas que não têm qualquer respeito pelos limites pessoais saudáveis dos outros. É importante notar que todos nós já tivemos estes comportamentos, mas mais importante é reconhecer quando estes são uma excepção, algo que acontece num determinado contexto ou com uma frequência mínima, e aqueles que são normativos, habituais, na pessoa.
1. Ultrapassar os limites
Ultrapassar os limites é dar conselhos que não são pedidos, ou perguntas inapropriadas (salário, situação amorosa, etc.), ou fisicamente tocar no corpo de outra pessoa sem que haja uma relação prévia de amizade, são exemplos de ultrapassar os limites, ou passar da marca. A pessoa que acabamos de conhecer e coloca a mão sobre o nosso ombro. Ou a pessoa que vemos no trabalho mas com quem não nos relacionamos a nível social e pergunta se vivemos sozinhos, por exemplo. Muitas vezes estas pessoas começam por dizer algo como "Eu sei que isto não me diz respeito, mas…” ou “Não tens que responder, mas…” - todos estes comportamentos iniciais são típicos de pessoas que não respeitam os limites pessoais e, com frequência, estão apenas a testar os nossos limites. Lembra-te que qualquer “mas” é, regra geral, uma indicação que o que foi dito antes é irrelevante, e o que é dito a seguir é aquilo que realmente acreditamos ou queremos. “Sabes que sou teu amigo, mas saíres à noite sem me convidar deixa-me com dúvidas.”, "Sou tua mãe e amo-te muito, mas tens um péssimo gosto para escolher amigos.” Recorda que conselhos só são válidos se pedidos, e mesmo assim, só se já passámos por uma experiência idêntica, e mesmo assim, deixar bem claro que aquilo que funcionou para nós poderá não funcionar para os outros.
Estas pessoas parecem não ter qualquer conhecimento de como comportar-se em sociedade. Não conseguem compreender que todos temos limites pessoais diferentes. E este desrespeito pelos limites pessoais produz situações desagradáveis, desconfortáveis, sobretudo porque queremos ser pessoas educadas e não nos ensinaram a responder a este tipo de comportamento.
Reconhecer as nossas emoções quando alguém tem este tipo de comportamento é o primeiro passo para saber estabelecer limites pessoais saudáveis.
2. Não há qualquer respeito pela privacidade
A pessoa que se aproxima de nós numa esplanada a ler um livro e se coloca por detrás, com a cabeça ao nível dos nossos ombros, para ler o que estamos a ler. Ou vê um livro na nossa secretária e pega nele sem pedir autorização. Ambos são comportamentos invasivos. Outro exemplo semelhante é a pessoa que espreita para o nosso telemóvel enquanto respondemos a uma mensagem.
Estes comportamentos mostram um desrespeito absoluto pela privacidade alheia. Estas pessoas parecem não saber que há um limite em relação ao que partilhamos com elas acerca da nossa vida.
É essencial sabermos definir limites e, com este tipo de pessoas, deixarmos bem claro que o que estão a fazer não é aceitável. E não é nossa função explicar o porquê.
3. Interrupções constantes
Numa situação em que estamos a meio de explicar algo, ou a narrar uma situação passada, e somos interrompidos. Isto é típico da pessoa que tem necessidade de controlar tudo e todos à sua volta. É também habitual em pessoas com transtorno de personalidade narcisista. Estas pessoas acreditam que as suas ideias e experiências são mais importantes que todas as outras.
Este comportamento interrompe o fluir natural de qualquer conversa, criando na pessoa interrompida um sentimento de não ser importante ou sem valor, não ser ouvida. Reconhecer este comportamento é fundamental para podermos estabelecer limites saudáveis.
4. Ignorar um “não”
“Não” é uma resposta completa. Sem necessidade de qualquer justificação. Em realidade um “não” significa estabelecer, e dar a conhecer aos outros, os nossos limites saudáveis. E tem que ser respeitado.
Todavia há pessoas que têm muita dificuldade em ouvir um “não”, tentam saber o motivo, neutralizar o “não”, contra-argumentar, negociar, como se o nosso “não” fosse um simples desafio a ultrapassar.
Esta dificuldade em respeitar um “não” demonstra uma falta enorme de empatia e compreensão, assim como um desrespeito pelas decisões dos outros.
A pessoa que por norma desrespeita um “não” deve ser evitada e mesmo ponderarmos a possibilidade de a excluir da nossa vida.
5. Partilha em excesso
Muitos de nós estivemos já em situações em que um desconhecido, ou pelo menos conhecido mas não fazendo parte das nossas relações mais chegadas, partilha aspectos da sua vida privada. Desde o divórcio litigioso com o ex, que é um canalha que nem na cama era bom, ou a avó senil que ninguém quer visitar, expõem a sua vida como se fosse notícia de primeira página.
Este comportamento é uma forma de forçar uma conexão onde não existe. É-nos difícil estabelecer limites saudáveis com a pessoa que está a passar por um período difícil. Estas pessoas não têm qualquer interesse em saber qual o efeito em nós de ouvir um relato doloroso ou penoso acerca de alguém que não conhecemos. E é uma atitude de “despejar o saco de lixo emocional” sem qualquer respeito pelos sentimentos alheios.
Mais uma vez, é importante reconhecer este comportamento e saber estabelecer limites saudáveis, mesmo que ao fazê-lo sejamos acusados de insensíveis ou mal-educados.
6. Contacto físico sem consentimento
Os limites físicos são tão importantes quanto os emocionais e mentais. Há no entanto pessoas que não compreendem isto. São aquelas pessoas que não conhecemos e nos dão uma palmada “afectuosa” nas costas, ou colocam uma mão sobre o nosso ombro enquanto nos perguntam o nome.
O contacto físico é um comportamento indicador de intimidade e não deve acontecer entre estranhos sem que haja um consentimento inicial.
Colocar uma mão sobre o ombro da pessoa com quem trocamos impressões, por exemplo, é sinónimo de intimidade e revelador de uma relação, seja de amizade, familiar ou amorosa.
7. Ausência de empatia
Todos os comportamentos anteriores são alimentados a partir de um único: ausência de empatia. As pessoas que habitualmente demonstram estes comportamentos não têm qualquer respeito pelos outros e revelam um desconhecimento absoluto do impacto que têm sobre os outros.
São pessoas que na presença de alguém em sofrimento são capazes de desvalorizar esses sentimentos ou falar sobre elas próprias e o quanto já sofreram muito mais.
A empatia é a capacidade de compreender que o outro está em sofrimento, e não, nunca, compreender o sofrimento do outro. É saber estar presente perante o sofrimento do outro sem interromper esse processo, seja com palavras ou ações.
Sem empatia é impossível respeitar quem quer que seja. Reconhecer esta falta de empatia deveria ser visto como um alarme que nos indica ser essencial afastarmo-nos deste tipo de pessoa se queremos manter a nossa sanidade mental.
Resumo
O respeito e a empatia são os pilares essenciais em qualquer relacionamento saudável. São estas duas qualidades que nos permitem compreender e apreciar as perspectivas, sentimentos, e limites dos outros.
É essencial mantermos presente que cada um de nós possui limites pessoais diferentes e com diferentes pessoas. Aquilo que para mim pode ser um comportamento divertido para outra pessoa pode ser uma agressão.
O respeito pelos meus limites pessoais e pelos dos outros é outra forma de dizer que é fundamental saber qual o espaço necessário para eu conseguir gostar de mim e dos outros.
Educarmo-nos para conseguir compreender os outros e ao mesmo tempo sabermos comunicar para sermos compreendidos, cultivar a capacidade para ouvir os outros sem nos justificarmos, aprender a dar um passo atrás e reconhecer que errámos, assumir responsabilidade pela nossa humanidade imperfeita, são os requisitos necessários para construir relacionamentos saudáveis.
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