As máscaras humanas: o Subserviente

Conheço esta máscara melhor do que qualquer outra porque durante uns 36 anos usava-a continuamente. O Subserviente é uma das máscaras mais curiosas, porque apesar deste tipo fazer tudo o que faz devido ao mais puro egoísmo, beneficia sempre outros (poucas máscaras humanas têm esta característica). São pessoas boas que se sentem tão insignificantes que precisam de se sentir úteis e, fruto desta necessidade, acabam por ajudar outros.

O Subserviente é uma pessoa que foi gravemente ferida na infância: humilhada ao ponto de as suas necessidades mais básicas deixarem de ser importantes. Devido a estas feridas profundas, o Subserviente aprende desde muito cedo que só conseguirá sobreviver se não provocar o mínimo distúrbio na vida dos outros e, se possível, fazendo com que todos à sua volta sejam felizes.

O Subserviente tem estampado na testa “abuse de mim”. Mas não se deixe enganar, porque ele é na verdade um predador. Sente-se tão envergonhado que é capaz de tudo para provar que não merece o seu lugar no mundo. São os seus sentimentos de inutilidade e medo que o obrigam a validar-se buscando a aprovação e amor dos outros, fazendo tudo e mais um pouco para que os outros gostem dele e lhe ofereçam um pouco do seu amor. É fácil reconhecer um Subserviente porque tem sempre um sorriso estampado na face, mesmo quando as situações se tornam complicadas. Para conseguir o seu amor ele é capaz de fazer dez vezes mais do que é esperado dele. Se lhe pedir um copo de água ele pergunta se não quer também um bolinho, ou um café, ou um jornal, ou... Começa a ter uma ideia?...

O subserviente dá tudo o que tem e o que não tem também (é capaz de prejudicar alguém para beneficiar outro). O problema é que depois irá cobrar tudo aquilo que fez, sugando a energia daqueles que parece ajudar. E esta ajuda pode chegar a um ponto ridículo em que o Subserviente gasta todo o seu dinheiro a comprar presentes e a pagar jantares aos amigos, tudo com o único objectivo de obter amor e ser visto como útil. Apesar de parecer que está a dar, a verdade é que está a retirar. Porque em cada gesto do Subserviente há um contrato dissimulado: eu dou-te tudo mas tens que me amar!

O Subserviente procura incessantemente a validação dos outros. Todavia, os seus sentimentos profundos de inutilidade impedem-no de ver como ele é de facto importante para a pessoa sobre a qual procura ser validado. Este acto contínuo de querer ser útil aos outros impede o Subserviente de escutar as verdadeiras necessidades das pessoas à sua volta. O seu pensamento repetitivo é simples: “como é que lhe posso agradar hoje?” A sombra do Subserviente é a profunda humilhação de não ser nada sem os outros.

A vergonha do Subserviente é acreditar que é inútil, insignificante, dispensável, carente, indesejado e um excelente praticante de agressividade passiva!

O desafio do Subserviente é começar por reconhecer que tem feito uso do disfarce da dádiva como forma de alimentar a necessidade de se sentir importante e útil. Se se permitir sentir as emoções que reprime em cada gesto caritativo, irá dar-se conta do quão carente se encontra da sua própria caridade. Uma vez que o Subserviente reconheça que não tem a obrigação de agradar a quem quer que seja, começará a dedicar toda a sua energia e dedicação à única pessoa que tem o poder de agradar: a si mesmo.

Comentários

  1. Puxa... mas como fazer diferença ente uma pessoa bondosa e um subserviente? Vejo que em muitos aspectos, se parecem, mas no entanto,não são o mesmo!!!

    Agora, uma pessoa subserviente, uma criatura assim, ainda é ruim num mundo como o de hoje onde ninguém mais se preocupa uns com os outros? Como pode ser isso?

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  2. Estou escrevendo em meu blog uma reflexão sobre ser boa e ser subserviente. Justamente para tentar dialogar com meu eu interior, no entanto, ao ler seu texto, me reconheço de uma forma surpreendente, como pode esta análise do termo dizer tanto sobre mim. Me incomoda muito, sempre soube que essa minha caracteristica era reflexo de algo, esta tudo aí, diante dos meus olhos. Preciso saber como processar essas informações. Muitíssimo obrigada por ter dividido esse texto.

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  3. Não é um.pouco cruel este texto? Vc começa falando sobre a característica de uma criança que foi de alguma forma massacrada na infância. Ela tem alguma culpa? Era uma criança não? Ser subserviente n é usar máscara, afinal todas as pessoas tem.pelo menos uma máscara escondida....mas no fim, concordo que a AJUDA é orientar a cuidar de si mais do que cuida dos outros....até pq ajudar ao próximo me parece uma condição de amor e n de máscaras....e sim....n existe nenhuma pessoa no mundo que não goste de ser reconhecida. Achei seu texto interessante porém pesado. Reveja seus conceitos um pouco. N confunda bondade com subserviência e nem subserviência com maldade e dissimulação...até pq vc começa o texto falando de alguém ...de uma criança que a ser modo de ver foi massacrada na infancia.

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    1. É um texto de fato pesado porém, sem rodeios, trouxe não só o problema mas também o remédio. Comecei a ler e logo senti meu emocional abalar mas ao final da leitura fiquei mais tranquila pois recebi também a orientação necessário para encarar a situação e mudar algumas atitudes e principalmente pensamento, pois somos aquilo que pensamos a maior parte do tempo.

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    2. É um texto de fato pesado porém, sem rodeios, trouxe não só o problema mas também o remédio. Comecei a ler e logo senti meu emocional abalar mas ao final da leitura fiquei mais tranquila pois recebi também a orientação necessário para encarar a situação e mudar algumas atitudes e principalmente pensamento, pois somos aquilo que pensamos a maior parte do tempo.

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  4. Que excelente texto. Sou uma pessoa extremamente subserviente, entretanto, nem sempre tive consciência desta condição. É uma característica que me incomoda muito, e tenho procurado formas de me tratar, além de conhecer mais a esse respeito. O texto me ajudou bastante. Obrigada !

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  5. Que texto estupendo! eu sou um cara subserviente e eu nem sabia. Confesso que tenho estado a cerca de dois anos a investir no meu desenvolvimento pessoal e não é uma tarefa fácil mudar, uma vez que passei os meus 30 a conviver com uma mente MEDÍOCRE. Na adolescência é fulcral o auto-conhecimento e a maturidade. Caso contrario serás um imbecil um adulto infantil e triste. Muito obrigado pelo texto e o conteúdo. valew

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