Neste
mundo fantasiado pela mente os companheiros compreendem-nos e são felizes ao
nosso lado o tempo todo. Por onde passamos deixamos um rasto de felicidade. Os
nossos pais também são compreensivos e carinhosos e dão-nos tudo o que pedimos
ainda antes de pedirmos.
É um
mundo onde não há doenças e ninguém morre (excepto a vizinha que é má-língua e
nunca deveria ter nascido, obviamente).
E
depois há o mundo real, perfeito. Neste mundo real não fazemos a mínima ideia
do que vai na cabeça do outro, e assustamo-nos. É um mundo onde pais acreditam
que a violência funciona. Onde autoridade, poder, controlo e disciplina são
sinónimos de medo. Onde amamos apenas quando os outros se comportam como nós
queremos. Onde nações fazem guerra num estado de confusão.
Neste
mundo há cadelas e gatas que comem as suas crias ao nascer. Leões comem os
bambis incautos.
E
temos então este conflito interno entre o mundo que nos ensinaram a idealizar e
o mundo real.
Interpretamos
então a negação do outro como algo de mau. A rejeição como algo cáustico. Os
gritos como agressão. O silêncio como abandono.
Como
gostarias de ser tratado quando estás mal, quando uma voz dentro de ti grita,
quando alguém que te é querido parte, quando o patrão te despede ou um filho
adoece?
E
como tratas os outros quando estão mal?
Alguém
que grita, que me acusa, que se fecha em silêncio ou que me diz “não” pode ser
motivo para eu fazer guerra, ou para respeitar o estado de alma do outro.
Insistir com a pessoa que nos diz “não” é desrespeitar essa pessoa. Querer que
a pessoa em silêncio fale connosco é desrespeitar o outro. Querer que a pessoa
que nos abandona regresse é não respeitar os gostos do outro.
Cada
ser humano está a fazer o melhor que é capaz. A vida é dura. Quem afirma que a
vida é fácil (e eu já acreditei) está a mentir. A vida é dura. Muito. E nesta
dureza da vida só me restam duas opções: aceitar a vida que se apresenta ou
lutar. Querer ter razão é uma aberração, é querer que a outra pessoa compreenda
o que ainda não consegue compreender.
Sem
um certo (mundo idealizado) e errado (mundo real), sem um bonito (mundo
idealizado) e um feio (mundo real), e sem um bom (mundo idealizado) e um mau
(mundo real), quem é que tu serias?
Serias quem és. Um ser humano perfeito a fazer o melhor que é capaz. Tal como todos nós.
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