Acreditamos que se formos pessoas
atractivas a nossa vida será fácil, ou pelo menos será fácil atrair alguém que
desejamos. Tornar-se atraente ao outro. E as mil e uma maneiras como o podemos
fazer.
Há sete passos para o sucesso, ou
quinze segredos da felicidade, ou as vinte virtudes para viver bem, ou uma
gigantesca lei da atracção.
Isto é tentar vender a ideia que
é possível controlar a vida. De alguma forma temos o poder de atrair o que
desejamos.
As aranhas são boas nisto da
atracção. Constroem teias para atrair a próxima refeição. E embora sejam boas a
construir a teia, sem necessidade de recorrer aos sete passos para o sucesso
nem aos quinze segredos da felicidade, a realidade é que na teia pode cair uma
mosca ou gafanhoto (happy meal!) como pode cair um turista desatento que
obrigará a pobre aranha a construir nova teia. Se ao menos as aranhas soubessem
e aplicassem a lei da atracção, nunca passariam fome! Claro que os restantes
insectos aprenderiam também a famosa lei da atracção e... Começam a imaginar o
desarranjo na fauna.
Muitas terapias e movimentos filosóficos
tentam ensinar formas de controlar a vida. Se aprenderes a usar roupa como deve
ser e a colocar maquilhagem como uma profissional de dança burlesca, o homem
dos teus sonhos irá sentir-se atraído por ti, tal como a mosca é atraída pelo
brilho da teia da aranha. A questão é se tu queres um companheiro que gosta de
ti por seres quem és, ou por teres criado uma imagem atractiva. Manter uma
imagem sai muito caro. A imagem do bom pai, da boa esposa, do bom funcionário.
Todos muito bons. Podem é ter que pagar um preço muito elevado por tanta
bondade que é imagem.
Em pequenos contam-nos histórias
de princesas e príncipes que acabam sempre felizes. Claro que é bom que as histórias
terminem no momento em que o casal assume que será feliz para sempre, antes que
apareçam os filhos, o desemprego, a doença, etc. Isso não se pode contar porque
destrói o mito do feliz para sempre.
Um ser humano completo é feito de
alegria e tristeza, saúde e doença, labuta e preguiça, calma e tensão, paz e
guerra. Pelo menos por agora. E querer só uma parte do ser humano é
condenarmo-nos a uma vida de sofrimento.
Em realidade queremos que os
outros se comportem como nós queremos. Da mesma forma que a aranha só quer na
sua teia aquilo que pode devorar (esta comparação com os aracnídeos está a
tornar-se um bocado tétrica, parece-me).
Observa o que acontece quando
gostas de alguém. Observa o que sentes. Tu és isso que sente. Sem palavras, sem
explicações, sem necessidade de compreender o que raio se está a passar, para
além do facto de que te sentes bem. Mas se precisares que o teu gostar seja
retribuído, se for necessário que a pessoa de quem gostas goste também de ti,
poderás perder o sentimento de gostar.
E é ao perder este sentimento, porque o teu gostar não é validado ou
retribuído, que perdes a presença de ti mesmo. Abandonas-te.
Gostar dos outros é a tua função.
De quem os outros gostam não te diz respeito.
Quanto a controlar a vida,
andamos a tentar fazê-lo há já algum tempo. Não me parece que seja
possível.
Aqueles chavões de “tu és capaz”
ou “nada é impossível” são mesmo e só isso: chavões. Não tentes ser mais do que
és, irás falhar. Não tentes mostrar que és melhor do que és. Ninguém é melhor
que ninguém. Cada um de nós está a ser quem é e quem consegue ser. E podemos
mudar, obviamente. Podemos mudar porque é um movimento natural ou podemos mudar
para sermos melhores que os outros. No primeiro caso iremos experienciar a paz,
no segundo iremos fazer guerra com todos aqueles que não concordarem connosco.
O primeiro passo (são sete, li
algures) para o bem-estar é conseguires ouvir-te. Em vez de andar aos saltos a
tentar agradar a todos e tentar que todos se sintam bem na tua presença, ouve-te.
O que é que tu realmente queres? E o que podes fazer? Se não sabes o que
queres, é porque ainda não chegou o momento de o saber. Se ainda não sabes o
que podes fazer, é porque ainda não chegou o momento de o saber. Descansa.
Desfruta do vento na cara. Ou dos gritos dos miúdos à tua volta. Ou da roupa
por lavar amontoada a um canto. Tudo está bem como está. E o que é para fazer a
seguir? Ouve-te.
Não tentes ser quem os outros
querem que tu sejas. Sê quem tu és. E quem tu és será visto pelos outros como
bondade e maldade, beleza e fealdade, honestidade e mentira. Completo.
Parece-me muito atractivo.
Parece-me muito atractivo.
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