Isto
de haver um processo de se fazer o luto é o mesmo que comparar esta experiência
a uma qualquer experiência que envolve acção. Fazer.
Mas
será que o luto é algo que se faz, ou é algo que se experiencia?
A
própria palavra, luto, limita toda a experiência de não voltar a conviver
fisicamente com alguém que nos é querido. Isto só por si pode ser catastrófico
para a pessoa a quem morre um ente querido.
Não
sei quais são as fases do luto. Parece-me que saber isto servirá apenas para me
atormentar. Quanto tempo devo “fazer” o luto? Haverá um tempo? E quem decide
acerca desse tempo?
A
minha experiência pessoal em relação a este tema é muito difícil de colocar em
palavras, como todas as experiências emocionais intensas. Fica-se a saber da
morte de alguém que nos é querido e aqui, neste corpo, fisicamente, surgem
emoções como a tristeza, a revolta, a vontade de chorar, urrar, bater murros
fortes numa parede, soluçar, rir, e de um modo geral, todo um cocktail de
emoções, muitas delas avassaladoras. E para mim é ok. Deixo que cada emoção
visite. Respeito a emoção. Não a considero errada ou má. Sei que com o tempo
estas emoções irão diluir-se. Mas serão sempre bem-vindas.
Quem
é que terá decidido que a tristeza, a raiva, a mágoa, são emoções más? Emoções
a eliminar da nossa vida? Porque o haveríamos de fazer? Em realidade não
conseguimos eliminar estas emoções. Quanto mais lutamos para que elas não
marquem a sua presença mais fortes elas se tornam.
Dizer
a alguém a passar pela experiência da perda física de um ente querido que
“tenha força” ou, mais absurdo ainda, “coragem”, é fazer um pedido para que
enterre sentimentos avassaladores. É pedir que não grite, quando há um grito no
peito a querer viver-se. É pedir que não chore, quando há uma tristeza profunda
a querer mostrar-se.
Em
realidade parece-me que a muitas pessoas incomoda a demonstração destas
emoções. Como se presenciar alguém a viver sentimentos de desespero fosse
incomodativo ou houvesse a necessidade de ajudar a superar o momento. A lógica
por detrás de um “tens que ter força” é louca, é a lógica do “se começares para
aí a gritar eu vou ter que te ajudar e não sei como fazer isso”.
Na
presença de alguém que perde um ente querido a minha atitude é extremamente
simples. Estou presente. Faço saber que estou presente. Só isso. E se a pessoa
quer gritar, gritar é bem-vindo. Se a pessoa quer chorar, chorar é bem-vindo. E
se a pessoa quer falar, o diálogo é delicioso. A pessoa fala, eu ouço. Não
tenho que mudar nada, porque não há nada para mudar. Não tento distrair nem animar
a pessoa, porque sei que a experiência do outro é única, é a sua experiência.
Respeito-a. Isto é tudo.
Há
beleza no rosto da pessoa que não esconde o que se faz sentir em si.
E
posso sempre convidar a um abraço, um passeio ou um café. Não há forma de errar
aqui.
Também se fazem lutos por pessoas vivas....que não partiram fisicamente...
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