Observo
como muitas pessoas gostam de afirmar que não mudam, como se isso fosse algo
positivo. Não é.
A
vida é toda ela feita de mudança. Sempre em mudança. Tudo muda. Excepto algumas
pessoas que acreditam que mudar significa rejeitar-se enquanto ser humano.
A
mudança de que falo, enquanto ser humano, é a capacidade de adaptabilidade. A
vida muda, circunstâncias mudam, e nós podemos endurecer e lutar contra a
mudança ou podemos adaptar-nos.
O
nosso drama maior é acreditar que sabemos o que é melhor para nós e, consequentemente, para os
outros também. O melhor para mim é viver ao teu lado. O melhor para ti é
tratar-me com dignidade. Acreditar que sei o que é melhor para mim é não
confiar na vida. Quando eu sei o que é melhor para mim (ter saúde, um bom
salário e muitos amigos) e a vida atira-me para o desemprego, eu sofro. E não
confio o suficiente na vida para saber que o desemprego pode ser uma
oportunidade de mudança radical para algo melhor.
Nos
relacionamentos também é importante mudar. Há uma diferença entre mudar para
ter a outra pessoa ao nosso lado e mudar porque a vida pede mudança.
Um
exemplo. A companheira gosta de passear à beira mar e tu gostas de visitar
museus. No velho modelo, é esperado que mudes para agradar à companheira, negando
os teus gostos. Isto é algo que só se consegue manter durante algum tempo. Num novo paradigma, tu podes experimentar um passeio à beira mar para aprender algo
que te tenha escapado. Fazes o passeio com o objectivo de aprender e não de
agradar. E no fim podes descobrir que realmente não gostas de passear à beira
mar, e não há qualquer problema. Mas pelo menos deste-te a oportunidade de
descobrir algo.
A
mudança significa ainda que a pessoa que era ontem não existe. Hoje há uma nova
pessoa aqui. Ontem acreditava que iria sofrer para sempre. Hoje alguém
oferece-me um sorriso e mostra-me que o sofrimento é uma opção.
As
pessoas que se mantêm em situações de sofrimento (seja num trabalho mal pago,
num relacionamento violento ou a ir a festas que se detesta) fá-lo porque tem pavor
da mudança. E também porque está a colher benefícios da situação. Detesto o
trabalho que faço, mas paga as contas. Não gosto dos gritos histéricos da
companheira, mas pelo menos não estou só. O pai trata-me mal, mas pelo menos
posso contar com ele numa situação de aflição.
Acreditamos muitas vezes que temos a razão do nosso lado, e que os outros é que estão errados e deveriam mudar. Isto é acrescentar mais sofrimento à vida. O oposto é mais real: eu estou errado e eu é que posso mudar. Mudar de emprego, mudar de lugar, mudar a atitude. Mas ensinaram-nos que estar errado é mau, que fazer asneira é mau, e que perder a razão pode despoletar uma guerra mundial. Saber-me errado permite-me aprender mais. Saber-me sem razão permite-me ouvir os outros. Saber que fiz asneira permite-me reconhecer a vulnerabilidade de todos os seres humanos.
O
que tens medo que aconteça se te permitires mudar? Se estiveres disponível para
desistir da pessoa que acredita na maldade do ser humano e passares a acreditar
na bondade de toda a humanidade? Que crenças e preconceitos barram o teu
processo de mudança?
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