A
vida é como uma teia de interações, em que tudo está ligado a tudo. A única
exceção a esta realidade é a ligação que estabelecemos uns com os outros.
Seja
a relação entre um pai e o filho, dois colegas de trabalho ou dois namorados.
Há uma ligação. E esta ligação só existe enquanto for alimentada por ambas as
partes. Pode ser alimentada de uma maneira que nos nutre e faz-nos sentir parte
da relação. Ou pode alimentar-nos de uma maneira que nos leva ao afastamento,
mesmo que de início não tenhamos consciência que é isso o que está a acontecer.
Entre
adultos a maioria dos relacionamentos cresce seguindo um padrão expectável: a
relação tem início e cresce ao ser alimentada por ambos. Há a presença um do
outro. Há a partilha de momentos. Eventualmente começamos a tratar o outro como
se fosse um brinquedo com um interruptor de on/off. Agora quero-te presente. Agora quero-te silencioso. Agora
quero-te feliz. Agora não te quero. Agora quero-te novamente falador. Agora há
muita coisa a acontecer na minha vida e prefiro que simplesmente estejas por
aí.
Estes
relacionamentos adultos podem ser de alta ou baixa manutenção.
O
relacionamento de alta manutenção é o que se vive menos tempo. Neste tipo de
relacionamento exigimos a presença constante do outro. Queremos a atenção
constante do outro. Queremos que o outro concorde connosco. Queremos que nos dê
prazer, mas só quando nós queremos. Queremos que o outro nos compreenda. Não
ouvimos o outro. Não valorizamos sequer a sua presença. Sabemos que o outro
está lá para nós e isso é tudo. Passamos meia hora a falar dos nossos problemas
e quando o outro fala dos seus queremos ir ao cinema ou às compras. Não
respeitamos o outro, violando a sua vulnerabilidade. Um exemplo disto é a
relação em que um dos elementos usa o outro para falar dos seus problemas,
medos, ansiedades, aventuras do passado e de como o dia corre, mas não tem
tempo para ouvir o que está a acontecer do outro lado. Prestamos pouca atenção
ao outro. E quando descobrimos que o outro troca mensagens com uma amiga
optamos por nos passar da cabeça e insultar, imaginando cenários que raramente correspondem à realidade. Ou amuamos.
Muitos
problemas surgem quando não prestamos atenção nem ouvimos o outro. A outra
pessoa pode informar-nos, por exemplo, que gosta de sushi e, como nós não
gostamos, imediatamente informamos porque motivo não gostamos e o que
desgostamos acerca do sushi. Poderíamos ir ao restaurante sushi e pedir uma
sopa de miso, por exemplo. O outro troca mensagens com alguém e ficamos
impacientes por descobrir o que se passa. Isto é violar o espaço do outro. Se a
troca de mensagens nos for útil a nós de certeza que a outra pessoa nos irá
informar. Isto significa esperar que a outra pessoa nos dê informação sobre a
sua vida ao invés de nos tornarmos detectives a tentar descobrir a vida do
outro. Há um abismo entre descobrir o outro à medida que ele ou ela se vai revelando, e descobrir o outro porque acreditamos ser detectives.
Nas
relações de amizade criamos muitas vezes situações de afastamento por um de
dois motivos. Ou continuamente discordamos do amigo e mostramos como nós é que
temos razão, ou simplesmente ignoramos a sua vida até precisarmos dele na nossa vida.
Em
relação ao concordar ou discordar, é muito fácil ouvir a opinião do amigo e,
caso a nossa opinião seja diferente, repetir a opinião do amigo e acrescentar
que a nossa experiência é simplesmente diferente (nunca é). Dois exemplos. O amigo
afirma que o futebol clube do porto é a melhor equipa nacional e nós
acreditamos que o benfica é que é o tal. Podemos simplesmente afirmar algo que
é a mais pura verdade: “Tu acreditas que a tua equipa é a melhor e eu também
acredito que a minha equipa é melhor, não é interessante como ambos temos uma
equipa que acreditamos ser a melhor? Somos muito parecidos, e és capaz de ter
razão.” – Isto não invalida a opinião do amigo nem a minha. A amiga afirma que
odeia a quadra natalícia. Podemos concordar com ela muito facilmente
pedindo-lhe para elaborar. Ou seja, mostrar curiosidade por saber os motivos do
ódio. Iremos ficar a saber mais sobre esta amiga. E, em última análise,
opiniões não têm qualquer valor.
Já
todos passámos pela experiência de nos afastarmos de amigos, sem qualquer
motivo aparente. E quando precisamos, lá vamos nós bater à porta.
Basicamente,
em qualquer relacionamento procuramos apenas uma de quatro coisas: aprovação, atenção,
validação ou amor. E se não obtivermos uma destas coisas, a relação está
condenada. À medida que deixamos de necessitar destas quatro coisas podemos
construir um relacionamento em que estamos presentes para o outro. A ausência é
a morte lenta de qualquer relacionamento.
A
relação cresce quando o outro tem motivos para estar presente na nossa vida.
Porque quereria alguém estar na tua vida? Que motivos dás para que a outra
pessoa queira efetivamente estar presente?
A
resposta resume-se a duas palavras: bondade e generosidade.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminar