As
nossas emoções surgem a partir de uma parte do cérebro inconsciente, reactivo,
responsável por manter-nos vivos. O Córtex Frontal do cérebro é o responsável
por interpretar e processar essas emoções e actuar de acordo com o significado
que lhes atribui. Ou seja, não respondemos a uma situação de acordo com o que sentimos mas sim de
acordo com o significado que atribuímos ao que sentimos.
Nos
últimos trinta anos temos assistido a um cada vez maior número de apologistas
do positivismo, do pensamento positivo, da emoção positiva. Isto causa muitos
danos a uma mente minimamente saudável.
A
realidade é que sem emoções ditas negativas não seríamos impelidos à acção.
A
emoção negativa é a forma de o corpo, a vida, nos impulsionar à acção. Se sinto
um tédio, vou passear. Se sinto nojo de um alimento, não o como. Se determinado
emprego me deixa sem energia ou enraivecido, mudo de emprego. Se me sinto
triste, cuido de mim, das minhas necessidades.
A
emoção dita positiva é o que resulta após ter entrado em acção, depois da
emoção negativa.
Um
exemplo. Sinto-me magoado no local de trabalho e desrespeitado. Estes sentimentos
são a forma do nosso inconsciente nos impulsionar à acção. Posso aprender algo
sobre o que me causa o mal-estar. E posso até abandonar o emprego, procurando
outro onde me sinta melhor. Ao abandonar o emprego irei sentir uma sensação de
alívio. Isto é sinal de que estou no caminho certo. Depois encontro um trabalho
onde há respeito e valorização e sinto-me feliz. O sentir-me feliz é a
recompensa por ter entrado em acção aquando do sentimento de mágoa e
desrespeito. E é um sentimento temporário, irá desaparecer.
Daí
que não é possível ser feliz. Porque a felicidade é a emoção que surge
naturalmente após ultrapassar um desafio ou realizar algo que nos é querido. A
felicidade é um momento. Até ao próximo desafio.
Então,
para começar a compreender as emoções negativas, que na realidade são positivas,
a pergunta a colocar-me é: o que significa isto para mim?
Notem
como, perante uma situação difícil aprendemos a colocar a questão “porquê?”
Porquê que algo me acontece é a pergunta que me colocará no lugar da vítima.
Desde sentir-me menos que os outros, a acreditar que não mereço ou a vida é
injusta, o porquê não resolve as nossas emoções negativas, apenas as reforça.
Pegando
no exemplo anterior. Se no trabalho observo que não sou respeitado e surge o
sentimento de mágoa, posso perguntar-me “o que significa para mim manter-me
neste emprego onde não sou respeitado?”. Poderão surgir vários significados.
Significa que eu não me respeito, significa que acredito que tenho que
sacrificar o meu amor-próprio por um salário, significa que ninguém me apoia, significa
que não presto.... Depois posso ainda questionar cada um destes significados.
Por exemplo, a questão do “não presto”. Observo que sei cuidar de mim, ajudo
amigos, faço voluntariado, etc, etc, etc. Isto mostra-me que os significados
que estou a atribuir à situaçãoo inicial são todos baseados em mentiras. E este
é o ponto de partida para a mudança. A emoção passa da mágoa para o alívio, e daqui para a coragem,
por exemplo. Por sua vez, a coragem leva-me a entrar em acção e procurar outro
emprego. E ao encontrar esse emprego surge a alegria. A alegria é a recompensa
pelo trabalho efectuado. Querer permanecer nesse estado de alegria é uma
loucura.
Não
é possível ter experiências de felicidade ou alegria sem ultrapassar desafios
que provocam estados emocionais negativos.
Sim, a felicidade eterna é uma utopia. Temos momentos de felicidade, mas não há uma vida que seja sempre feliz. Se assim fosse não teríamos porque lutar, porque continuar este caminho... seria o fim.
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