A
violência em qualquer relacionamento começa quando tentamos impor ao outro a
nossa forma de experienciar a vida.
Acreditamos
que a nossa interpretação da realidade é real.
E é
apenas uma interpretação.
Acreditamos
ainda que não ter razão implica estarmos errados, a nossa forma de ver e
experienciar a vida está errada.
Em
realidade praticamente todos os seres humanos têm a mesma experiência da vida.
Colocamos cada experiência em uma de entre seis gavetas. Isto é bom ou mau,
bonito ou feio, certo ou errado.
Esquecemos
que muitas vezes o que é certo para um individuo é errado para outro. Por
exemplo, eu acredito que gritar com alguém é errado. Mas há pessoas que, ou por
problemas de audição, porque não sabem comunicar de outra forma ou por doenças
endócrinas, gritam quando falam. E estas pessoas acreditam que estão certas. Ao
dar razão à pessoa que grita não estou a ser a favor, nem a concordar, com uma
comunicação feita aos gritos. Dar razão significa apenas que respeito a forma
como o outro comunica. E é muito possível que me afaste desta pessoa.
Simplesmente somos duas pessoas com experiências diferentes na área da
comunicação. Querer que a pessoa que grita pare de gritar será uma perda de
energia para mim. Poupo-me ao afastar-me.
Há
pessoas, por exemplo, que lutam pelos direitos dos animais, ou por um planeta
mais saudável, ou um mundo humano mais justo. Estas pessoas não se apercebem
que o simples facto de lutarem implica violência. É como se a um mundo violento
adicionar mais violência vá melhorar o que quer que seja.
Em
vez de lutar pelos direitos dos animais, o que posso fazer para que a vida de
um animal seja melhor? Em vez de lutar por um planeta mais limpo, poderei
deixar de comprar produtos plásticos, usar transportes públicos e consumir
apenas produtos biológicos? Em vez de lutar para que haja justiça na sociedade
poderia começar por ver onde sou injusto ainda? Por exemplo, costumava ser
muito injusto para com pessoas que considerava preconceituosas.
Gandhi
e Mandela são dois exemplos de como não lutar trás resultados muito, mas muito
mais eficientes para a sociedade. Tanto Gandhi como Mandela foram maltratados
inúmeras vezes, espancados até. Mandela viveu vinte cinco anos numa cadeia por
crimes que não tinha cometido. Ambos mostraram uma compaixão tremenda para com
os agressores. Aceitaram que os agressores eram quem eram, e escolheram a via
da paz. Pacificamente conseguiram que a Índia saísse das mãos dos ingleses e
que a África do Sul terminasse a sua política de apartheid. Se isto foi o
melhor ou não, é outra história.
Cada
ser humano tem a sua razão, tendo em conta a educação a que teve acesso (e
mesmo que fosse uma boa educação, muitos faltaram às aulas de civismo), cada
ser humano reúne em si uma série de experiências que lhe ensina a viver. Há
pessoas que acreditam na violência, outras acreditam no álcool e outras ainda
nas mensagens da música pop.
A
pessoa que tem um doutoramento não é melhor nem mais sábia que o varredor de
ruas: é diferente. Os dois têm experiências de vida diferentes, e os dois podem
ensinar algo ao outro.
A
questão é simples: estou disponível para ouvir o outro sem o julgar? E poderia
simplesmente escolher aproximar-me ou afastar-me sem necessidade de luta?
O
melhor que cada um de nós pode fazer é oferecer o nosso exemplo. Isto é tudo.
Mesmo.
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