Pandemias, Ciência e Misticismo

Acredito que a grande maioria das pessoas está mal educada na área das ciências. Em realidade muitas pessoas acreditam que “fazer” ciência é parecido a uma qualquer religião em que se vomita uma informação qualquer e acredita quem quiser.

Há ainda pessoas que são totalmente contra a ciência e tecnologia (e usam essa tecnologia para se fazerem ouvir, inconscientes da ironia).

Podemos começar pela peste negra, ou bubónica, que avassalou o planeta entre 1347 e 1351. Calcula-se que matou entre 75 a 200 milhões de seres humanos. Na Europa matou entre 30 a 60 por cento da população. Na altura as pessoas morriam e ninguém sabia o motivo. Acreditava-se na ira de um Deus, nos pecados do Homem, etc. Não havia a ciência nem tecnologia que há hoje para se saber que afinal era uma pulga, transportada por ratos em carregamentos que faziam a Rota da Seda, desde a China, a portadora de um vírus tão letal. A recuperação, na Europa, levou duzentos anos. 
Mais tarde surgiu a gripe espanhola, entre 1918 e 1920. Foram infectados cerca de quinhentos milhões de seres humanos, um quarto da população mundial. Morreram entre dezassete a cinquenta milhões de pessoas (não havia a tecnologia necessária para contabilizar melhor estes números). A maioria dos surtos desta gripe matava os mais jovens e mais idosos. A desnutrição, falta de higiene e uma pobreza generalizada contribuíram para uma taxa de mortalidade tão elevada. E, mais uma vez, não se sabia ao certo a causa de tanta mortalidade. A ciência ainda não tinha evoluído o suficiente para poder ajudar.

Chegamos ao século XXI. Três pandemias em vinte anos, sendo que as duas primeiras passaram despercebidas a muita gente sobretudo porque as suas condições de vida eram desfavoráveis à propagação do vírus. 
Temos agora o Covid 19. É graças à ciência e a cientistas dedicados em todo o mundo que nos é possível saber do que se trata (as pessoas que gostam de teorias de conspiração têm o direito de se dedicar às mesmas, verifiquem apenas se enquanto se dedicam a espalhar informações baseadas em pressupostos, em hipóteses não demonstradas e intuições mais ou menos espirituais, estarão a ajudar a melhorar a situação da população ou apenas a contribuir para mais medo e pânico).

A ciência baseia-se em factos. Os cientistas sabem que aquilo que hoje é verdade, amanhã não o é. O conhecimento evolui e a tecnologia também. Mas há uma coisa de que podemos ter a certeza: um cientista faz uma afirmação baseando-se em conhecimento demonstrável (ok, nem sempre, como em todas as áreas, há aqueles que atiram com suposições ao ar e os media encarregam-se de tornar essas suposições como verdades). A realidade é que a ciência não pede para ter fé ou acreditar em algo inatingível. Possui factos, ou não possui.

Há coisas más na ciência e tecnologia? Há, claro que há. Também há coisas más nas seitas e religiões do mundo. 

Um chá de gengibre é bom para ajudar a colmatar os sintomas de uma gripe? É, claro que sim. Uma sessão de reiki ajuda o sistema respiratório? Acredito que sim. O problema é quando alguém acredita que será o reiki ou o chá de gengibre a tratar alguém que está com uma falha no sistema respiratório e a necessitar de um ventilador.

É saudável, no meu parecer limitado, cuidarmos de nós e daqueles que amamos recorrendo a tudo aquilo a que temos acesso e possa melhorar a saúde. Já não me parece saudável uma atitude de desacreditação na ciência e nos avanços feitos nos últimos cinquenta anos. Sem a tecnologia que temos hoje, muito provavelmente não teria sido possível aos governantes tomar as medidas que tomaram a tempo de poupar muitas pessoas mais fragilizadas. É ainda a tecnologia que permite mantermo-nos em contacto com aqueles que nos são importantes. É a ciência a responsável, em grande parte, pela erradicação de doenças fatais nos últimos sessenta anos. 

Muitas pessoas, envolvidas em luz e amor infinitamente incondicional, vomitam muita história mas na prática contribuem menos que um piolho para a melhoria da vida dos seres humanos. Seria melhor uma atitude de colaboração entre todos, partilha de conhecimento e de bens. Mas conhecimento baseado em factos e não em medos ou inspirações. 
Aqueles que são contra a tecnologia sugeria que a deixassem de usar, seria mais congruente. Aos que duvidam da ciência, por favor isolem-se numa ilha e vivam felizes.

O ponto de equilíbrio, ou harmonia, pode ser encontrado num estado em que usamos os recursos disponíveis sem a pretensão de que uns são melhores que outros. O ser humano só faz comparações por três motivos: para provar que é superior aos outros, para provar que é inferior aos outros, ou para melhorar algo. 

Em qual destes grupos queres participar?

Comentários

  1. Adoro, obrigada pela lucidez que só me inspira mais admiração, beijinhos Emídio*


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