“A
vergonha maior do ser humano é fingir ser quem não é.”
Há vergonhas presentes em nós que podem ser úteis.
Por exemplo a vergonha de atirar com lixo para o chão impede que o chão fique
sujo. Ou a vergonha de que os outros nos vejam como gulosos impede-nos de comer
mais doces. Há depois vergonhas que possuímos e não queremos que outros
descubram. Por exemplo a vergonha de limpar o nariz com o dedo, ou a vergonha
de fantasiar com a vizinha do lado. Estas vergonhas também são úteis porque
impedem-nos de magoar outros ou a nós mesmos.
E depois há as vergonhas que já esquecemos e nos
prejudicam, levando-nos a actos de auto-sabotagem. Verifica se te identificas
em alguma das vergonhas apresentadas a seguir.
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A vergonha de ser inteligente. Uma criança que gosta da leitura e de
estudar mas que nasce no seio de uma família que preza a actividade física, ou
que dá mais valor a ganhar dinheiro. Esta criança é gozada, ou até humilhada,
por não saber fazer outra coisa a não ser estudar. Os pais olham para esta
criança e afirmam coisas como “coitada, nunca chegará a ser alguém” ou “não és
capaz de fazer nada bem feito”. Por mostrar a sua inteligência, a criança é acusada
de estar errada e irá crescer com esta vergonha. Irá criar problemas na sua
vida, irá sabotar qualquer oportunidade de sucesso, porque escondido no passado
está a vergonha de ser diferente, errada.
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A vergonha de ser carinhoso. A criança que é muito afectuosa, que gosta
de dar mimos, muitos beijos e festas. Numa família em que o contacto íntimo é
mal visto esta criança será envergonhada. Irá ser-lhe dito para não tocar nos
outros, que é mau fazer festas a outros. E esta criança irá crescer com a vergonha
de ser emocionalmente carente. E irá esconder esta vergonha tornando-se numa
pessoa fria, distante, a detestar o contacto físico íntimo.
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A vergonha de ser criativo. A criança que adora experimentar e é capaz
de colocar detergente da loiça no aquário para lavar os peixinhos. Os adultos
não irão querer saber porque o fez. E se perguntarem porque o fez será com o
tom de voz que indica à criança que qualquer que seja a resposta, será errada.
Depois de algumas experiências em que é humilhada ou feita ver que é má, a
criança irá sentir vergonha da sua capacidade inventiva e maneira diferente de
ver a vida. E irá crescer com esta vergonha de ser criativa. Irá esconder esta
vergonha num emprego desenxabido onde fará todos os dias as mesmas coisas sem
necessidade de recorrer ao seu espírito criativo.
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A vergonha de ser independente. A criança que é criticada por não ter
amigos, ou porque não brinca com os irmãos. Como adultos consideramos uma
criança que gosta de estar na sua companhia como sendo uma criança sem aptidões
sociais. Iremos forçar a criança a socializar. Esta criança irá ser
envergonhada por ser “anti-social”. Como adulto esta criança irá tornar-se
dependente da aprovação dos outros. Será incapaz de dizer não, sempre
disponível para os outros e nunca para si.
A nossa maior vergonha, e a causa de muita
auto-sabotagem e repetição de padrões que causam sofrimento, tem a sua origem
numa qualidade muito positiva: o nosso dom.
Experimentação: uma forma rápida de ficares em paz com as tuas qualidades negativas
é assumindo-as perante aqueles que te são importantes. Eu descobri que por
vezes sou burro e estúpido, e também posso ser mesquinho.
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Para descobrires qual é o teu dom, a qualidade que te
é inata e que te ajudará a viver a vida na totalidade, começa por dedicar algum
tempo a observar qual a qualidade negativa que se repete na tua vida. Talvez
seja a preguiça, a inveja, a mentira, a frieza, a desorganização, a
desobediência, a tristeza, a solidão, a mesquinhez, a insegurança, a
desconfiança, o medo de arriscar. Observa qual é a qualidade negativa que está
em ti e que te prejudica. Para muitas pessoas é uma qualidade tão simples como
a necessidade de estar certo, de ter razão.
Pedia-te para parares de ler até descobrires a tua
qualidade negativa número um. Pede ajuda a amigos e familiares. Diz-lhes que
não ficarás magoado mas que precisas da sua ajuda e que te digam qual o maior
defeito que vêem em ti. Outra forma de descobrires esta qualidade negativa é
dedicar algum tempo aquilo que mais te envergonharia que outros dissessem de
ti. Qual a qualidade negativa que mais vergonha te poderia causar?
Quando tiveres a certeza da tua qualidade negativa,
a que mais danos te causa, faz uma visita rápida ao teu passado. Pega em dez
situações dolorosas do passado e verifica se essa qualidade estava presente.
Outra forma de descobrires esta qualidade é perguntares-te porque fizeste o que
fizeste, porque reagiste como reagiste. O motivo porque esta qualidade se
manifesta na tua vida é simplesmente porque quando demonstraste o seu oposto
foste envergonhado, humilhado ou castigado. Pode ser que te recordes deste
evento inicial ou não.
A qualidade negativa que domina as nossas vidas
tende a ser um padrão que se repete na família. Em algumas famílias é a
mentira, noutras a violência, noutras ainda é a arrogância. Normalmente esta
qualidade só se encontra bem visível num membro da família. A chamada “ovelha
negra” da família. Em realidade esta é a pessoa que carrega a sombra da família
e que permite que a mesma funcione na sua disfuncionalidade. Na família
trabalhadora há um preguiçoso. Na família honesta há um mentiroso ou ladrão. Na
família poupada há um gastador. Na família sóbria há um alcoólico.
Se soubéssemos como a sombra actua no seio da
família, não haveria necessidade de um membro carregar a vergonha de todos os outros
membros. E como resgatar a qualidade que projectamos neste membro da família?
Podemos começar pela compaixão para com esta pessoa. Não recriminar, antes
estar grato. Parece um paradoxo. Mas diz-me, se tu mesmo fores uma pessoa
violenta ou dependente do álcool, quem ouvirias mais facilmente: a pessoa que
te ama, te respeita e não julga, ou a pessoa que te critica, que se zanga
contigo e te condena?
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