Desde muito cedo aprendemos que
há emoções positivas e negativas. A criança ri e os pais batem palmas. A
criança chora e os pais preocupam-se.
Aos poucos aprendemos que há
coisas más na vida que provocam estados de espírito negativos. E há coisas
boas, que provocam estados de espírito positivos.
E assim começamos a aprender a
não respeitarmos este ser humano que se vive. Eu consigo gostar de mim quando
sinto alegria, entusiasmo, compaixão, serenidade. E deito-me abaixo quando o
sentimento é deprimente, ansioso ou angustiante.
E uma emoção é apenas uma
experiência sensorial. Sentimo-la. É física.
A natureza é feita de
polaridades. Há o verão e o inverno. A criação e a destruição. A noite e o dia.
Maré alta e maré baixa. O silêncio e o ruído.
Queremos eliminar as emoções
negativas, excluí-las da nossa vida. Porque são más.
Acreditamos tanto naquilo que nos
é ensinado que nem paramos para nos questionarmos, para observar, para sentir.
Surge uma tristeza ou angústia e imediatamente tentamos livrar-nos da sensação.
Telefonamos à amiga, vamos às compras, comemos chocolate ou vamos à internet.
Qualquer coisa para não estar presente para a emoção rotulada de negativa.
Este fugir de certas emoções
tornou-se tão viral que quase todos os livros e cursos de desenvolvimento
pessoal são focados no eliminar as emoções negativas. Como se houvesse uma
obrigação de ser feliz. E nem sequer questionamos o que é isto de ser feliz.
Uma abordagem mais construtiva
seria observar a emoção, parar, escutar. Que pensamentos se constroem à volta
da emoção? Que histórias contamos? E enquanto contamos uma história, será que
conseguimos estar presentes para o que está a acontecer?
A minha experiência com algumas
destas emoções.
A Tristeza. Esta emoção surge na
presença do amor-próprio e amor pelo próximo. Há um desejo de querer alguém
ausente, de algo acontecer. A emoção é um pedido muito intimo de ficar presente
no momento. De observar este amor. O filho distante, a mãe que morreu, o
diagnóstico de um cancro, o marido que pede o divórcio. A tristeza recorda-nos
que amamos. Que é impossível eliminar este amor. E por vezes a emoção é tão
forte que surgem lágrimas e uma necessidade de uivar. Torna-se avassaladora.
Parece queimar e dissolver uma parte de nós. E é mesmo isso. Destrói a parte de
nós que não está consciente deste amor. Ao não reconhecer este amor, a tristeza
invade todos os aspectos da nossa vida, levando-nos aquilo que se chama
depressão.
A Angústia. Esta emoção costuma
sentir-se fisicamente no abdómen ou no peito. Por vezes é tão intensa que se
torna difícil respirar. É uma emoção que contrai, endurece o corpo, cria
tensão. E surge para nos recordar que estamos ausentes, a visitar um futuro que
não existe agora ou um passado que não se repete. Pode ainda mostrar-nos o
quanto estamos em luta com a vida, a querer que a vida seja diferente daquilo
que é. Esta emoção acorda-nos. É uma bênção. Muitas vezes esta emoção pede algo
de físico, como correr, gritar, dar uns murros na almofada. Ignorada, esta
emoção leva a um desrespeito total pela nossa natureza, dizemos sim quando
queremos dizer não, gritamos com aqueles que amamos, afastamo-nos do que é bom
e querido na nossa vida, fechamo-nos num sofrimento acerca do futuro ou
passado.
A Ansiedade. Um sentimento nobre
que tenta mostrar-nos que estamos a criar expectativas irreais acerca do futuro.
O futuro é como um pais estrangeiro que nunca visitámos. A ideia de visitar
este país pode encher-nos de curiosidade pelo que iremos encontrar, ou
enterrar-nos num medo pelo que poderá estar à nossa espera. Esta emoção é
intensa, podendo chegar a um estado de pânico, porque só assim podemos acordar
para o momento presente. A ansiedade é a emoção que nos pede para verificarmos
os nossos pés, as mãos, a respiração, e o que nos rodeia no momento presente. É
o sentimento que nos ensina que estamos a acreditar numa mentira, porque o
futuro não está aqui. Esta emoção pede-nos para regressar ao momento
presente. É uma amiga do presente. Algumas perguntas que a ansiedade ajuda a
responder: neste momento tens roupa para vestir? Tens água para beber? Tens
onde te sentar? Consegues respirar?
As emoções rotuladas de negativas
podem mostrar-nos o quanto não nos respeitamos, o quanto rejeitamos o ser
humano que somos.
E o que podemos fazer com estas
emoções? Estar presente quando surgem. Verificar o que aconteceu no passado ou
imaginamos vir a acontecer no futuro e que é o combustível da emoção. Este é um
começo. Não querer curar nada, porque o que está presente é o que está
presente. Não há nada para curar, pelo simples facto de que o estado emocional
que sentes é o estado emocional que sentes. Não há nada de errado com o que
sentes. Dá as boas-vindas à emoção. Permite-te observar a presença da emoção
fisicamente. Pergunta-te o que essa emoção poderá estar a querer mostrar-te. E
aguarda a resposta.
Enquanto rotularmos a experiência
humana como boa ou má, a paz será sempre algo temporário.
É ok sentir uma tristeza, uma
ansiedade, uma preocupação, um medo. É ok. E irá passar.
Muito bom, mesmo. Obrigada.
ResponderEliminarShow! Parabéns
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