Um Guia Para Ser Feliz

Vamos todos aprender a ser felizes! 
Vamos aprender o que dizer e quando o dizer. O que fazer e quando o fazer! Vamos aprender leis universais de sucesso infalíveis que irão produzir muita alegria e abundância financeira (embora nenhum de nós se considere materialista, obviamente.).
Já ouvi pessoas aparentemente iluminadas convidar outros para retiros onde é possível ser-se autêntico e abraçar a totalidade que somos. Desde que ser autêntico não inclua comer carne, ou dizer asneiras (têm uma carga energética negativa, sabias?), ou se vistam de preto, ou que não saibam entoar um mantra correctamente.
Ainda acreditamos que para ser feliz é obrigatório eliminar toda a negatividade da vida. Isto é o mesmo que dizer que só irei viver no planeta terra depois de eliminarem todos os animais perigosos, a poluição, a doença, os movimentos das placas tectónicas, etc.
A felicidade é um conceito. Não é uma experiência. O nosso conceito de felicidade inclui muitas vezes aquilo que não corresponde à realidade. Seremos felizes se as pessoas à nossa volta forem honestas e bondosas, se tivermos mais dinheiro do que precisamos, se o nosso companheiro/a nos compreender, se não engordarmos nem envelhecermos, se não adoecermos.
Seremos felizes se não encontrarmos pessoas violentas, as pessoas que amamos não adoecerem ou morrerem, se não danificarmos o carro ao estacionar, se não houver mosquitas transmissoras de doenças, se...
A felicidade enquanto conceito implica muitas condições. Não é possível permanecer num estado de felicidade enquanto impuser condições.
Talvez não seja necessário estar feliz para viver.
Se fosses pai ou mãe, amarias menos um filho por nascer com uma disfunção qualquer? Abandonarias um familiar porque está com dificuldades?
Observa as imposições que colocas sobre ti mesmo e sobre os outros para atingir um estado emocional que é apenas possível por momentos. Exiges que as pessoas sejam honestas? E se o companheiro, na sua honestidade, disser que se quer afastar, o que acontece à tua felicidade? E será que queres esse tipo de honestidade?
Em vez de querer ser feliz, talvez fosse uma boa opção escolher estar presente para o que quer que seja que surja. Uma alegria, uma tristeza, uma angustia, um latejar. Emoções que nos visitam sem pedir autorização.
É ok os outros serem quem são, fazerem o que fazem, dizerem o que dizem. Poderíamos respeitar os outros por serem quem são, sem as nossas condições, as nossas regras?
Lembrar-me que eu tenho razão na forma como vivo, e os outros também têm razão na forma como vivem. Ninguém sabe mais do que sabe, ninguém faz melhor do que faz.
Não quero ser feliz, quero estar presente para aquilo que a vida me oferece agora. Eu não mando, não controlo a vida. Ela acontece. Posso apenas fazer o meu melhor, de acordo com aquilo em que acredito. E é assim para todos os seres humanos, embora possam não o saber.
Impingir aos outros a minha forma de viver é um inferno, para mim e para os outros. Não há qualquer felicidade aqui.


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