Em
qualquer tipo de relacionamento, seja entre colegas, pais e filhos, marido e
mulher, amigos, há uma interacção em que se partilham experiências. E em
qualquer situação dois seres humanos podem ter experiências diferentes e
sentimentos diferentes. Isto é absolutamente natural.
Os
problemas nos relacionamentos começam quando acreditamos que temos que reagir à
partilha do outro. E não temos. O outro, pelos seus gestos, comportamento ou
palavras, diz-nos acerca da sua experiência. A partilha termina aí. Eu ouço ou
observo e ponto final. Posso ainda falar da minha experiência sem esperar o que
quer que seja do outro.
O
outro diz que está frio. É a sua experiência. Não tenho que responder que se
tivesse vivido na Noruega, como eu vivi, aí sim teria motivos para se queixar
do frio.
Observa
se a tua partilha é feita a partir de um espaço em que precisas da validação ou
aprovação do outro. Quando te queixas ao outro ou comentas a notícia do dia,
fá-lo porque partilhas a tua experiência ou para que o outro concorde contigo?
Quando
um filho diz ao pai que o odeia, nesse preciso momento está a partilhar a sua
experiência da relação com o pai. Não significa que odeia sempre o pai, nem que
o irá odiar sempre. É só naquele momento. E é só a experiência do filho. O pai
pode ouvir e até verificar onde ele próprio já se odiou. E compreender um pouco
da experiência do filho.
Não
temos que reagir. Podemos ficar em silêncio e digerir o que é dito ou feito. Se
possível conscientes de que há bondade em cada momento. E a experiência da
bondade pode provocar lágrimas.
Poderia
falar de toda a bondade que caíu sobre mim nas últimas três semanas. Do quanto
as pessoas à minha volta são bondosas e generosas. Em realidade já sabia que
assim era, mas ainda não tinha tido a experiência física. E por vezes sinto um
carinho, uma ternura enorme. E por vezes esta mente fica tão envolvida na
experiência que se torna confusa. E processa a experiência. E regressa à
quietude que é a sua natureza.
Quando
outro ser humano fala contigo, seja um sussurro ou um grito, está apenas a
partilhar a sua experiência. A tua função é ser testemunha dessa experiência.
Cada
ser humano acredita no que acredita. Até deixar de acreditar. E podemos
respeitar as crenças de cada um. Mesmo que para nós pareça um inferno, uma
loucura, é aquilo em que o outro acredita. E é ok para o outro acreditar no que
acredita.
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