Crescemos
a acreditar que temos necessidades básicas que nunca o foram. Para estarmos
vivos e bem de saúde não precisamos que outros validem quem somos nem o que
fazemos, não precisamos de ter a atenção dos outros nem sequer o respeito.
Tampouco precisamos que os outros nos compreendam ou saibam o que precisamos
para estarmos bem. Mas crescemos a acreditar que precisamos.
É
assim que nasce o conflito. Quando a outra pessoa não responde a uma pergunta
nossa, quando se esquece do nosso aniversário, quando não elogia a refeição que
preparámos, ou quando não compreende porque motivo estamos atrasados ou sem
vontade de comer.
E
por detrás de todas estas necessidades inventadas há ainda uma imagem que
tentamos impingir aos outros. Mais conflito.
Queremos
ser o bom profissional, a boa mãe, a boa amiga, o bom amante. Para cada uma
destas imagens criamos um ideal e queremos que os outros nos vejam como esse
ideal, perfeito. Por exemplo, se acreditar que uma boa mãe tem filhos bem
educados e respeitadores, quando o pequeno faz birra a irritação da mãe deve-se
a que os espectadores não irão ver a imagem da boa mãe, mas apenas uma mãe que
não sabe educar um filho. E isto é falso. A mãe pode esforçar-se por educar um
filho “à sua maneira” e o pequeno insistir em ser um javardolas. É a vida.
Criámos
estas imagens de perfeição, desde o corpo perfeito à atitude perfeita e à
resposta perfeita. E esquecemos que a vida é feita de caos. A vida é uma
mudança constante. E nós queremos apenas a parte da felicidade e bem-estar.
Depois
queremos ainda que o bem-estar e a felicidade entrem nas nossas vidas usando
outros. Uso os filhos para me sentir bem (quando são educados e validam a minha
imagem de bom pai ou mãe). Uso o companheiro para me sentir feliz (quando ele
se comporta como eu quero, independentemente do que ele quer). Uso os colegas
para me sentir realizado no trabalho (quando me felicitam pelo meu empenho ou
congratulam por um objectivo atingido). Uso as amigas para me sentir com razão
(quando concordam que o ex era um canalha e eu merecia melhor).
Isto
pode parecer cruel, e é porque o é. Viver a partir de uma imagem que necessita
constantemente de validação e aceitação é duro. Necessitar que outros gostem de
nós é duro também.
A
acrescentar a esta crueldade que aprendemos muito cedo há ainda os manuais de
auto-ajuda e desenvolvimento pessoal que impingem esta ideia de ser possível
viver feliz, feliz, feliz. Vendem-nos este paradigma de que sorrir é não só
importante como ainda um direito e necessidade. E quem não sorri é porque não
está grato à vida ou coisa parecida.
Em
realidade a vida é feita com muitas cores, muitas emoções, muitas mudanças.
Aceitar
que ao longo da vida iremos ter momentos felizes e momentos de desespero
profundo. Iremos chorar de alegria e raiva. Iremos ser criticados, rejeitados,
insultados. Isto é garantido para todos, sem excepções. E reconhecer que é ok
isto ser assim é o primeiro passo para uma vida de sossego (não de felicidade,
de sossego). Afinal, nós mesmos iremos também criticar, rejeitar e insultar
inclusive aqueles que não conhecemos. Até não termos motivos para o fazer.
O
conflito termina quando eu começo a aprender a amar-me, validar-me, aceitar-me
e não necessitar que sejam os outros a fazer isto. E amar-me significa
reconhecer que há em mim um ser de muita bondade que por vezes é capaz de
maldades. Em mim há um ser generoso e humilde que por vezes é egoísta e
arrogante. Em mim há tudo. E quando junto o bom e o mau, o certo e o errado, o
bonito e o feio, encontro-me.
Descubro
que eu sou tu.
PS –
No próximo workshop, em Lisboa nos dias 1 e 2 de dezembro, 2017, iremos
mergulhar nestes conflitos e descobrir o todo que há em nós para amar. Para seinscrever clique aqui.
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