Nos
últimos trinta ou quarenta anos temos vindo a criar esta ideia de que a vida só
vale a pena se formos felizes. Tudo é vendido sob a premissa que iremos ser
mais felizes se obtivermos este produto ou aquele serviço. Procuramos o prazer
de estar vivos incessantemente.
Esta
busca é a causa de muitas depressões e actos de agressividade. Queremos filhos
bem comportados, alimentos saudáveis, companheiros que nos fazem felizes, tempo
de lazer fantástico, amigos incríveis, carros fabulosos, empregos sem stress
mas que nos encham a alma.
A
sensação de prazer, como a sensação de tristeza, mágoa, frustração, perda,
alegria, entusiasmo, etc. é uma emoção passageira. Em realidade é mais do que
uma emoção passageira. É a recompensa por termos feito algo. Não é possível
experienciar emoções positivas sem antes termos passado por uma emoção
negativa.
Este
escapismo das emoções negativas apenas serve para nos sentirmos mais e mais
negativos, tristes, sem alento.
Queremos
acordar pela manhã cheios de energia e felizes por estar vivos. Mas verificamos
que não temos a casa de sonho, ou o companheiro de sonho, ou os filhos de
sonho, ou o emprego de sonho. E começamos a luta pelo prazer de estar vivos.
Lutamos com a cara ensonada (queremos aquela expressão de vida radiante no
espelho), lutamos com a cozinha por ser pequena, lutamos com o filho porque não
está a sorrir e pronto a tomar o pequeno-almoço. Lutamos com o companheiro por
não ter ajudado nas lides da manhã com um sorriso de orelha a orelha. Depois
lutamos com o trânsito por não andarmos à velocidade que queremos. Lutamos com
a colega de trabalho porque não elogiou o vestido novo. Lutamos com o chefe
porque não nos deu o crédito suficiente pelo trabalho de ontem. Quando chegamos
a casa ao fim do dia continuamos a lutar.
Se
pudéssemos abrandar poderíamos observar que o desassossego matinal pode ser
apenas uma sensação que nos empurra para cuidar de nós e dos filhos, por
exemplo. E depois de o ter feito, surgirá a sensação de ter realizado algo.
Sentir-nos-emos satisfeitos. A sensação de desespero que surge por estarmos
presos no trânsito pode levar-nos a sair de casa mais cedo, evitando os
engarrafamentos da hora de ponta, e que terá como resultado uma sensação de bem-estar
ao chegar ao trabalho mais cedo e com tempo para tomar um café com calma. O
sentimento de revolta ao chegar a casa e ver o companheiro de trombas pode
levar-nos a preparar uma refeição deliciosa que irá produzir a sensação de
auto-valorização e realização por cuidarmos daqueles que amamos.
Quando
compreendemos que emoções negativas são a força que nos impele à acção, então o
prazer, o deleite, o estar bem onde estou, surgirá naturalmente. Sem a
necessidade de recorrer ao último modelo de iPad ou máquina de fazer gelados em
20 minutos.
Mas
enquanto acreditar que o prazer é importante, irei continuamente procurar uma
fuga dos momentos que são a fonte do prazer.
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