Aprendemos
muito cedo a procurar a segurança. Como se a nossa vida dependesse de um mundo
seguro onde não há imprevistos, onde a vida só age depois de nos pedir
autorização.
Aprendemos
ainda muito cedo que é importante sermos pessoas de quem os outros gostem.
Agradamos aos outros para comprar a sua aprovação e validação. E neste processo
esquecemos quem somos e o que queremos experienciar.
A
tecnologia parece vir a piorar este estado de coisas, ao tornar tudo mais
rápido, mais eficiente, sem falhas aparentes. Queremos algo, e queremos ainda
hoje.
O
remédio para uma vida amorosa começa por abrandar. Abrandar o suficiente para
observar a vida a viver-se. As estações a mudar. O céu com nuvens, sem nuvens,
claro e escuro. Os carros que passam e o espaço que fica quando não passam. Há
o sem-abrigo e o homem de negócios, a criança que falta à escola e a mulher que
vende flores. Uma buzinadela aqui, um grito ali, um abraço acolá.
A
vida vive-se sem nos pedir autorização. Damo-nos crédito quando a vida acontece
como desejamos, e sofremos quando assim não é. Acreditamos que podemos exercer
um poder qualquer sobre a vida, desde a lei da atração até à bomba atómica. E
não exercemos qualquer poder.
A
consciência de que não exercemos qualquer poder sobre a vida é o que nos conduz
de volta ao nosso estado natural de curiosidade, de resolver situações
complexas, de descobrir algo de útil à humanidade. A curiosidade só é possível
quando perdemos necessidade de segurança, quando sabemos que é ok falhar, e que
iremos falhar muitas vezes.
Ninguém
tem que gostar de nós nem do nosso trabalho. Isso compete-nos a nós. Ninguém
tem que nos elogiar ou agradecer. Isso compete-nos a nós.
A
vida vive-se, dança-se. Gosto de ti, e daqui a pouco já não gosto, e depois
volto a gostar. Quereres que eu goste sempre de ti é pedir-me o impossível. E
no entanto, eventualmente, é possível gostar sempre de ti e de tudo o que tu
fazes e dizes, e danço na liberdade de saber que posso afastar-me. Nada a
ganhar e nada a perder.
Esta
dança com a tristeza, a mágoa, a alegria e a depressão, a euforia e a frustração.
Todas as emoções bem-vindas. Cada uma traz consigo uma mensagem.
A
tristeza pede-me que cuide de mim, a mágoa pede-me para abrir mão de tudo o que
está presente, a alegria pede-me que celebre a vida, a depressão avisa-me que
há muito tempo que não cuido de mim.
E a
vida dança-se. Assim. Em mudança constante. Saber que ao longo do dia vão ser
muitas as vezes que estou errado e que nada é como eu interpreto irá
provocar-me riso. Esta mudança que me coloca em stress apenas para me avisar
que o que quer que seja que esteja a pensar não corresponde à realidade.
A
realidade é feita de bom e mau, bonito e feio, certo e errado. Querer que a
realidade seja apenas metade é sofrer e parar de dançar, embora a vida continue
a dançar-se.
É
que a vida não nos pede autorização para se viver.
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