Como arruinar um relacionamento íntimo em cinco passos fáceis

Para eles:
  1. Começa a relação focando toda a tua atenção nas qualidades positivas da tua vítima. É importante ignorar os comportamentos dela que te afectam negativamente, correndo o risco que ela fique amuada e fuja. É fundamental praticar a arte da desonestidade e fingir que ela é só perfeição. Mais tarde, qualquer data a partir dos seis meses de relação, podes dar-te autorização para informá-la de tudo o que vês de errado nela;
  2. Torna-te o responsável pela felicidade da criatura. Se ela não estiver sempre feliz é porque estás a falhar e então é fundamental apontar o dedo com acusações. Diz-lhe que é uma mal-agradecida, que não te compreende, que é egocêntrica, que é mimada, e qualquer outro adjectivo que te ajude a rebaixá-la e te alivie o sentimento de estares a falhar no departamento de provedor da felicidade alheia;
  3. No início da relação é importante estares de acordo com praticamente tudo o que ela diz e acredita. Depois de seis a doze meses começa a discordar, a mostrar-lhe que a razão está do teu lado, tu é que sabes. Para apimentar um pouco a relação diz-lhe que ela é doida como a mãe, ou, melhor ainda, generaliza com uma afirmação do tipo “as gajas são todas umas complicadas”! Resultados garantidos sempre que usares esta opção;
  4. Também muito importante é ceder a todas as suas vontades, mas só nos primeiros meses! Depois torna-te rígido, inflexível e determinado. Afinal não queres ser um banana, certo? Para um melhor resultado pondera a possibilidade de levantar a voz, gritar, bater portas, sair com os amigos para uns copos ou sentar-te a ver um jogo da bola e ignorá-la completamente (este é especialmente bom se ela detestar futebol - uma espécie de movimento sado-masoquista do qual o Marquês de Sade ficaria orgulhoso);
  5. Queixa-te de cada falha, comportamento ou palavra que venha dela. Queixa-te a ela, aos teus amigos, às amigas dela, aos teus pais. Até podes, num acto de heroísmo, queixar-te num daqueles programas da manhã da TVI ou do CMtv! Acusa-a de ser a responsável do teu mau-humor. Faz-lhe saber que a tua vida é muito melhor sem ela. Pondera a possibilidade de a substituir pela amiga ruiva dela que é muito mais engraçada.
Para elas:
  1. É boa ideia começar a relação a acreditar que ele irá transformar a tua vida para melhor. Ele será o príncipe encantado que te levará ao êxtase, será o amigo verdadeiro do coração, o amante perspicaz, o oásis no deserto da tua vida;
  2. Torna-te sexualmente aventureira, mesmo que sexo seja uma coisa parva de gajo, porque uma mulher a sério tem outros interesses (como a amizade verdadeira, ser a conselheira honesta, a divina apontadora de defeitos masculinos). Depois de uns meses de aventuras em Vale de Lençóis deverás começar a mostrar um tédio e indisponibilidade para os prazeres carnais. Vai mais longe ainda e acusa-o de ser um tarado sexual que te vê apenas como objecto sexual (pontos extra se falares da submissão a que as mulheres são sujeitas e conseguires vomitar quatro ou cinco exemplos bem feministas, do tipo “já o meu pai era assim para a minha mãe, coitada.”);
  3. Toma nota no teu diário de cada falha do desgraçado. Isto é útil para mais tarde poderes justificar a tua indisponibilidade para a intimidade. Se fores capaz de dizer algo como “nunca esquecerei aquela tarde de chuva em que me obrigaste a ir contigo ao cinema ver um filme de terror!” Ou melhor ainda, atira-lhe uma pergunta em que qualquer que seja a resposta que te dê será sempre a resposta errada. Algumas pérolas: gostas mesmo de mim? Fazes isso só para me magoar, não é? Tu não me compreendes, pois não? - tenta manter um ar de vítima ou bruxa perseguida;
  4. De início é fundamental tornares o pobre na tua prioridade de vida. Com o passar dos meses, torna-o na tua segunda prioridade, depois na terceira. Eventualmente ele deverá ficar, na tua lista de prioridades, algures entre uma visita à tua tia com Alzheimer no lar de idosos e aquele anúncio no Facebook sobre o último aparador de pêlo indesejado;
  5. Torna a vida a dois complexa e cheia de ratoeiras. Se ele te abraçar, é porque quer sexo e te vê apenas como objecto sexual. Se não responder a uma piada tua é porque tem outra ou tu já não és importante. Se ele se mostrar ausente é porque é egoísta e só pensa nele. Se está ao teu lado na cozinha é para te criticar os cozinhados (confessa, os teus cozinhados até nem são lá grande coisa, certo?). Interpreta cada acção dele como se tivesses cinco anos e ele fosse o teu pai, e assim está garantido um envenenamento da relação por anos a fio. 

Para ambos, é importante que depois dos primeiros meses, em que ignoraram tudo o que era negativo no outro, em que fingiam adorar cada gesto ou palavra do outro, e engoliram as parvoíces um do outro, comecem a adoptar o comportamento de uma criança de cinco anos. Aqui vale tudo. Amuar, gritar, bater com as portas. É mesmo importante não reconhecerem nem mostrarem gratidão por pequenos gestos de carinho do outro. Em vez disso, empolem cada comportamento negativo que venha do outro como um ataque pessoal à vossa integridade.
Continuamente falem do passado, sobretudo das partes desagradáveis, porque essas são as memórias que vale a pena guardar, obviamente.

Isto é aplicável em qualquer relacionamento que desejam arruinar. Pode ser heterossexual, homossexual, transsexual, assexual. polissexual, e mais os outros sessenta géneros que andam por aí. 
Não é difícil, e qualquer um/a consegue. No fim terão uma bela história de terror com que se podem entreter na solidão do vosso quarto.

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