Regra geral, qualquer criança nasce completa em termos emocionais e comportamentais. Em si há a alegria e a tristeza, o calor e a frieza. O altruísmo e o egoísmo, a inteligência e a estupidez.
Enquanto cresce irá mostrar cada uma destas qualidades. Mas os adultos à sua volta, quando ela mostra uma qualidade que não é aceite pela sociedade que a rodeia, reprovam essa qualidade e retiram o seu amor (o qual é sempre condicional). Expressões vindas dos adultos dirão coisas como: "se bateres no teu mano és mau e não gostamos de ti!", ou "menina egoísta que quer os biscoitos todos para ela! Feia!".
Em primeiro lugar é importante saber que não há nada de errado com a agressão ou o egoísmo, se expressos de uma maneira saudável! Quando alguém viola a nossa integridade física, por exemplo, sermos capazes de nos defender é uma boa estratégia! Ou quando alguém nos quer vender algo que não precisamos, sermos egoístas ao ponto de não nos querermos separar do nosso dinheiro, é saudável também.
O problema é que quando mostramos qualidades rotuladas de negativas, ninguém nos ensina como essas qualidades podem ser úteis! E são todas úteis, caso contrário não nasceríamos com elas.
O que acontece á criança, depois de ser rotulada de má ou feia, é que irá esconder estas qualidades menos desejadas num recanto do seu subconsciente. Irá dizer a si mesmo que jamais será má ou feia e, por conseguinte, jamais irá mostrar a sua inveja ou egoísmo ou malvadez.
O problema sério começa aqui. Numa realidade de polaridades opostas é impossível experienciar um aspecto da realidade sem experienciar também o seu oposto. Já imaginou o que seria o frio sem o calor? A noite sem o dia? A bondade sem a maldade? Como pode saber o que está a experienciar sem o seu oposto?
O dilema humano tem assim início. Como precisamos dos opostos de qualquer qualidade, iremos projectar sobre outros os aspectos negados em nós. Assim, eu não preciso de ser mau, basta-me projectar essa maldade e deixar que outros sejam maus por mim. Não preciso de ser egoísta, é suficiente que outros o sejam por mim.
Desta forma consigo ter a experiência dos opostos de qualquer qualidade, sem contudo ter a experiência de ser visto como uma pessoa má.
Só que enquanto projectar as minhas qualidades negativas nos outros também estarei impedido de experienciar as minhas qualidades mais positivas. A minha luz.
Já reparou como as pessoas mais "boazinhas" são aquelas a quem parece acontecer as piores coisas? Porque projectam os seus aspectos rejeitados sobre os outros. Eu não tenho que expressar a minha raiva, basta-me projectá-la sobre outro.
Esquecemo-nos que de cada vez que apontamos um dedo a alguém há três dedos a apontar para nós. O inimigo, como afirma Deepak Chopra, está dentro de nós.
Resumindo: a sombra é tudo aquilo que você não é ou não quer ser. E essa sombra irá, mais cedo ou mais tarde, ganhar poder suficiente para possuir a sua mente e a sua vida.